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Quem é mesmo a escrava?

servido por: Ronald Johnston

A médica cubana Natasha Romero Sanches, que disse que o salário dela é suficiente, ou a colunista Eliane Cantanhêde, que afirma que profissionais como ela vieram ao Brasil num “avião negreiro”? Quem se deixou acorrentar pelos grilhões da ideologia: a doutora negra que diz trabalhar pela vocação de salvar vidas ou os jornalistas que a enxergam como uma escrava e se obrigam a atirar pedras em qualquer iniciativa do governo Dilma, seja por interesses políticos ou econômicos dos patrões?

A negra Natasha Romero Sanches, de 44 anos, é uma doutora cubana. Formou-se por uma universidade pública e desembarcou no Brasil para ser enviada a um dos 701 municípios que não atraíram o interesse de nenhum médico brasileiro. Lugares que abrigarão estrangeiros nesta primeira fase do “Mais Médicos”. Indagada por jornalistas sobre o fato de parte da bolsa de 10 mil reais ser apropriada pelo governo cubano, ela não se queixou. “O meu salário é suficiente”, disse ela, afirmando ainda que trabalha por amor e pela vocação de salvar vidas.

Aos olhos da jornalista Eliane Cantanhêde, a doutora Natasha é uma escrava. Veio ao Brasil não num voo comercial, mas num “avião negreiro”. Assim como Cantanhêde, diversos outros jornalistas escreveram artigos ou postaram mensagens no Twitter sobre a “escravidão” de cubanos. Foi o caso, por exemplo, de Reinaldo Azevedo (Veja.com), de Ricardo Noblat (O Globo) e de Sandro Vaia (ex-diretor de redação do Estado de S. Paulo) – além do “inacreditável” (no pior sentido possível) Augusto Nunes, que definiu o ministro Alexandre Padilha como uma Princesa Isabel às avessas, por estar escravizando cubanos no Brasil.

Contratado para comandar o programa Roda Viva, da TV Cultura, vinculada ao governo de São Paulo, Augusto Nunes atacou o pré-candidato do PT, Alexandre Padilha. Segundo ele, o ministro da Saúde estaria escravizando cubanos. “Abolida em maio de 1888, por uma filha de Dom Pedro II, a escravidão foi restaurada em agosto de 2013, por um filhote de Lula”, diz o jornalista, a quem o governo de São Paulo confiou o comando de um dos programas mais tradicionais da televisão brasileira.

É possível que esses colunistas realmente acreditem que os médicos cubanos foram escravizados pelos irmãos Castro. E que o Brasil, sob as garras do PT, se converteu numa brutal tirania que trafica pessoas – argumento que se enfraquece diante do fato de que dezenas de países já assinaram convênios semelhantes para a importação de médicos com o governo cubano.

Evidentemente, a doutora Natasha não é uma escrava, assim como os outros médicos de Cuba que chegaram ao Brasil. O que todos eles pediram na chegada foi apenas respeito, para que possam desempenhar bem as funções.

Mas será que Eliane Cantanhêde e os colegas dela são realmente pessoas livres? Eliane, por exemplo, se vê forçada a criticar qualquer iniciativa vinculada ao Partido dos Trabalhadores e até a inventar crises inexistentes. Foi ela, por exemplo, quem, no início deste ano, anunciou um apagão iminente – que ainda não aconteceu. Ela também esteve na linha de frente do chamado “lobby do tomate”, apontando uma inflação fora de controle, que não se materializou.

Os coleguinhas, muitas vezes, também parecem presos e acorrentados a grilhões ideológicos. Funcionam num sistema binário, que exclui a reflexão – se algo é ligado ao PT, só pode estar errado. Ocorre que, muitas vezes, eles apenas vocalizam interesses econômicos, políticos ou comerciais… não deles, mas dos patrões. Barões midiáticos que, num sistema ainda concentrado como o brasileiro, distorcem o fluxo das informações. Basta dizer que, entre os dez homens mais ricos do país, quatro são ligados a grandes grupos de comunicação.

É possível que a doutora Natasha não desfrute de toda a liberdade que gostaria de ter. Mas não se pode descartar a hipótese de que ela seja uma mulher mais livre do que Eliane e os colegas, que a veem como uma escrava.

Para Eliane, cubanos vêm ao país em avião negreiro. A colunista da Folha reforça, de modo nada sutil, que os médicos cubanos (repito: que estão chegando para atuar em regiões remotas!!!) são escravos. “Tente você contratar alguém em troca de moradia, alimentação e, em alguns casos, transporte, mas sem pagar salário direto e nem ao menos saber quanto a pessoa vai receber no fim do mês. No mínimo, desabaria uma denúncia de trabalho escravo nas suas costas”, diz a jornalista (me envergonho de chamá-la assim, peço desculpa aos colegas de verdade).

Ela aderiu à tese de que o governo brasileiro está contratando escravos cubanos para atuarem como médicos em regiões remotas do país. O título da coluna, “Avião negreiro”, já diz tudo (como assim, Folha???). Pela lógica dela, o governo brasileiro estaria agindo como um senhor de engenho e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, seria uma espécie de traficante de escravos.

Eliane Cantanhêde pensa de modo distinto. Para ela, é escravidão – e ponto final.

No entanto, os primeiros cubanos que chegaram ao Brasil pareciam felizes e dispostos a colaborar. Só para reforçar: pediam apenas RESPEITO e diziam que dinheiro não é o ponto central da atuação deles.

Cadê a coluna sobre como os políticos enriquecem ilicitamente e deixam o povo na merda, hein, Eliane Cantanhêde??? Melhor! Vá num desses 701 municípios e pergunte às pessoas, que vivem lá, o que elas preferem? Se elas preferem ter um médico cubano ou não ter médico algum! Então faça um favor e deixe de escrever tanta baboseira!!!