Televisão

Cartoon Network era melhor nos anos 90?

servido por: Leonardo Rocchetti

Vejo muito pela internet, pessoas chorando e dizendo que o Cartoon Network nos anos 90 era melhor – isso tanto de brasileiros, quanto de pessoas de outros países.

É muita babaquice, primeiro porque não é verdade. E, segundo, porque não é verdade também. Muito deste mimimi é por causa daquele saudosismo babaca de que “no meu tempo, as coisas eram melhores”. Não eram!

Atendo-me, única e exclusivamente, aos desenhos produzidos pelo CN, vamos pegar os “superdesenhos” dos anos 90 e o humor extremamente inteligente deles. Nos anos 90, tínhamos desenhos como: “A Vaca e o Frango”, “Eu Sou o Máximo”, “Johnny Bravo”, “O Laboratório de Dexter”, “As Meninas Superpoderosas”, entre outros.

A maioria esmagadora seguia aquela mesma característica dos desenhos dos anos 60, 70 e 80, ou seja, não havia continuidade e, com raras exceções, cada semana era mais do mesmo. Não havia reviravoltas ou um roteiro que nos surpreendesse o mínimo que fosse. Pelo menos no Scooby-Doo, não era sempre o velho Sr. Walter do parque de diversões.

Pegando exemplos de desenhos como “Johnny Bravo” ou “Eu Sou o Máximo”: eram repetitivos ao extremo, de uma chatice estarrecedora. Um ou outro desenho tinham referências que fugissem do mundo infantil (e, mesmo assim, eram poucas). Os adultos daquela época achavam os desenhos babacas, porque eram roupagens novas e, muitas vezes, sem sentido de desenhos clássicos.

Os desenhos de hoje foram criados pelas mesmas crianças que assistiam CN no final dos anos 80 e começo dos anos 90, e resolveram quebrar o paradigma há muito tempo estabelecido nos desenhos animados. Resolveram criar desenhos que divertissem crianças e, ao mesmo tempo, fazer piadas exclusivas para adultos. Referências que só um adulto (e, em alguns casos, um adulto que leu mais de um livro na vida) entendesse. Alguns chegam ao cúmulo de agradar crianças e adultos, e serem intragáveis para adolescentes. Porque são extremamente coloridos para crianças pequenas gostarem, mas, para os adolescentes, as referências fogem, porque eles só veem e entendem as piadas que foram feitas para as crianças.

Agora vamos pegar exemplos dos desenhos dos anos 2000 em diante: “A Mansão Foster para Amigos Imaginários”, “As Trapalhadas de Flapjack”, “As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy”, “Apenas um Show” e, o melhor de todos, “Hora de Aventura”.

Os roteiros são mais elaborados, os traços, em diversos destes desenhos, são mais displicentes ou experimentais. Algumas situações destes desenhos são muito mais emocionais do que em qualquer desenho do antigo CN. Mesmo a “família” é diferente e mais abrangente: pais que cuidam da casa, enquanto mães vão trabalhar; jovens adultos vagabundos; e tantas outras coisas que são o oposto do que acontecia nos desenhos antigos (a família era a tradicional; vagabundo, no máximo, se ainda fosse adolescente).

E quando você se depara com uma frase como essa: “essa dança cósmica, de decadência e permissões contidas, acreditem, torcem os braços de todos nós, mas, se a doçura vencer, pode ser que então eu ainda esteja aqui amanhã para cumprimentá-los ontem, amigos, na paz, na paz”. Não é possível que alguém ache – nos antigos desenhos – frases, citações ou mesmo ideias que se pareçam com essa.

Os desenhos atuais são mais inteligentes e com roteiros mais complexos. Muitos personagens são tridimensionais, possuindo mais de uma faceta – diferente dos meninos gênios que, além de criar maravilhas, brigavam com as irmãs mais velhas.

Se você é daqueles que acha o CN antigo melhor, te indico assistir algum canal da Disney, com desenhos repetitivos, que são sempre mais do mesmo. Para agradar teu gosto apurado, poderá matar aquela saudade vendo coisas “novas” tão bem feitas quanto no teu tempo, cheias de repetições e com personagens bidimensionais.