Atitude

Tem que ser macho!

servido por: Ronald Johnston

André Amaral cansou da proibição da bermuda por parte do governo do Estado e resolveu usar uma “brecha na lei”. O veto (de entrar de bermuda), no entanto, não vale para mulheres, que podem também usar saias. Inconformado com a limitação, André achou uma alternativa inusitada: foi trabalhar de saia.

Na última segunda-feira, o Rio de Janeiro registrou a maior temperatura (levando apenas a cidade em consideração) no ano (40,6 graus). O mês de janeiro, na capital fluminense, foi o mais seco em 13 anos, com apenas 34% da chuva esperada. Aliás, não chove significativamente na cidade há mais de 15 dias. Diante de todos estes fatos, o ilustrador André Amaral resolveu tomar um atitude, se não radical, no mínimo, curiosa.

Sem ar-condicionado no serviço, o funcionário público, de 41 anos, usou a criatividade para afugentar o calor escaldante do Rio de Janeiro: trocou a calça comprida pela saia. A solução chegou a causar estranhamento no porteiro do Centro Administrativo do Estado do Rio de Janeiro, no Centro (que a princípio, tentou barrar André), mas já é um sucesso entre os colegas e também os internautas.

“Já tenho mais curtidas no Facebook do que amigos”, relatou.

André publicou a foto – no ambiente de trabalho, usando saia – numa rede social e, em sete horas, foram mais de oito mil curtidas e mais de cinco mil compartilhamentos. No post, André conta que, na chegada ao prédio, foi alertado pelo porteiro de que não poderia entrar.

“O rapaz da portaria quis me barrar, entre surpreso e constrangido, e pediu que eu me dirigisse ao administrador do prédio, que é policial militar. Expliquei para ele a situação e o mesmo, muito gentil e cordato, e sem a mínima surpresa, orientou o porteiro dizendo a ele que de saia pode deixar entrar.”

Ele alegou ainda que vir de saia para o trabalho “não é uma forma de protesto, é algo pelo meu bem estar mesmo. Não vou ficar comprando ventilador e pagando do meu bolso”.

“Hoje mesmo, quando voltei do almoço, uma colega minha passou mal por causa do calor. Desmaiou e, ainda por cima, não tinha socorrista. A saia foi uma solução, já que de outro jeito não há condições de trabalhar. Foi algo como uma desobediência civil”, completou.

Aliás, quem deu a saia estilo escocesa (kilt) foi a própria esposa do ilustrador. “A gente fica sofrendo calado. Meu caráter não muda com uma saia, muito menos o meu rendimento”, justificou André Amaral.

“Vou vir todo dia agora, me amarrei”.

Apesar do bom humor, a situação dos servidores do CAERJ não é fácil. Além da falta de ar-condicionado, alguns dos ventiladores, comprados em um rateio dos próprios funcionários, foram roubados.

Recentemente, uma campanha na internet pediu que as empresas permitissem a entrada de funcionários usando bermuda. A OAB-RJ permite, desde o início do ano, que os advogados trabalhem sem paletó e gravata. A prefeitura do Rio de Janeiro também autorizou que os servidores públicos, motoristas de ônibus e vans credenciadas, além dos cobradores, também dispensem as calças e optem pelo traje mais refrescante. Mas a medida não vale para prédios do Estado, como o que André trabalha. Falta agora o governo do Estado também se sensibilizar com a causa nobre, diga-se.

Feliz e aliviado por trabalhar de saia, ele diz que não planeja devolver a peça de roupa para a mulher dele.