Novo Golpe?

Quem tem medo de Lênin?

servido por: Juca Badaró

Andando pelo canteiro central da Avenida Presidente Vargas, avistei, de longe, um grupo de dezenas de manifestantes, homens e mulheres, empunhando uns cartazes mal-ajambrados e algumas bandeiras nacionais. Apesar da aparência tosca do protesto, dava pra perceber que eram todos de classe média, profissionais liberais, comerciantes e, sem dúvida, moradores da zona sul. Só quando cheguei a poucos metros desse grupo, me dei conta de que eles faziam parte da Marcha da Família com Deus, já anunciada por alguns meios de comunicação naquela semana. Na verdade, uma reedição da Marcha da Família realizada há 50 anos em São Paulo.

Pediam uma intervenção militar imediata no país, criticavam o atual governo do PT e reforçavam os valores das famílias conservadoras brasileiras. Alguns, mais exaltados, gritavam “Viva Geisel” e “Viva Médici”, numa referência aos ícones da ditadura militar. Outros esbravejavam para convencer que só o retorno dos milicos ao poder acabaria com a corrupção em nosso país. Tentei conter a minha perplexidade diante daquele espetáculo, no mínimo, patético. Confesso que foi quase impossível, especialmente quando reconheci um senhor de camisa pólo azul, de cabelos escorridos e um olhar prepotente. Sim, era ele quem liderava aquela massa de parvos. O excelentíssimo deputado Jair Bolsonaro.

Depois de ver essa cena, resolvi voltar pra casa. Estava desiludido da política, do mundo, da vida. Tive até pena dos militares, que nem foram os grandes vilões do golpe como dizem por aí. Foram obrigados a tomar o poder depois de uma enorme pressão de empresários, burgueses, industriais, grandes produtores rurais, católicos e proprietários de rádios e jornais, que temiam um Brasil cubano. Claro, ninguém quer dividir as riquezas. Todos estavam excessivamente temerosos e queriam afastar a ameaça comunista. Juntos, financiaram a ditadura militar, arrecadaram dinheiro em todos os estados e, com a ajuda norte-americana, conseguiram emplacar a página mais infeliz da nossa história, parafraseando o aclamado compositor censurado pelo regime.

Os soldados e fuzis, blindados e tanques, e toda pompa inútil das Forças Armadas, eram parte de um espetáculo, que tinha por trás um fortíssimo esquema civil de conchavo político, poderio econômico e negócios escusos. Os militares, coitados, foram manipulados por interesses muito maiores, muito além, inclusive, das fronteiras do território nacional.

Aos mais exagerados e paranóicos, que fazem previsões e conspirações nas redes sociais de um novo golpe militar, eu vos garanto que podem ficar tranquilos. O pior aí já está. Os nossos heróis da revolução aprenderam com os torturadores e, para nossa infelicidade, estão no poder.