História

O Brasil e a escravidão mental

servido por: Fabio Balek

Na escola, o mês de abril é cheio de datas comemorativas e emblemáticas, que auxiliam as crianças a adquirir um pouco de conhecimento em história: 18 é dia do livro; 19, comemora-se o dia do índio; seguido pelo 21, Tiradentes; e 22, “descobrimento” do Brasil.

Curiosamente, ou não, todas estas datas tem a ver com necessidades ou história brasileiras.

Alguns dias atrás, o Shots publicou um manifesto pró-América, citando as mazelas dos imigrantes latinos rumo aos Estados Unidos, buscando melhores condições de vida. Pois bem, desde a invasão dos europeus ao continente americano, muitas coisas ocorreram com nosso povo, os de antes – índios, ou, como alguns dizem, nativos americanos –, e, posteriormente, negros e outras miscigenações possíveis.

A matança dos índios, seja como for, desde pelas doenças do branco, confrontos, violências sexuais e morais, exploração ou até mesmo pelos Bandeirantes (assassinos travestidos de heróis), tudo ocorreu após a chegada dos lusitanos e espanhóis nestas terras.

Foi uma carnificina não-gratuita: fora em troca de riquezas naturais, minerais e humana.

De lá pra cá, quase nada mudou, apenas se alteraram o tempo, a tecnologia, o estilo (modo) de vida, os senhores e os explorados, mas, via de regra, continua igual.

Enfim, após séculos de exploração, no fluxo da história, apareceu Tiradentes, um dos principais revolucionários brasileiros, filho de um Brasil já miscigenado, em um levante que culminaria na independência do Pindorama! Apesar do esforço dele para livrar o Brasil da ganância da Coroa portuguesa, conseguindo a emancipação do país, os governantes ainda eram os mesmos brancos ricos e poderosos, quase todos de mesma origem. Portanto, pouca alteração de um comando a outro, embora a ocasião tenha sido de tamanha importância. E irreversível, do ponto de vista metrópole/colônia e vice-versa. Agora eramos um império emancipado.

Um país de brancos, ricos… e um grupo enorme – de negros, mulatos, mestiços e índios – pobres.

A população indígena, que já era pífia, seguiu diminuindo com o levante de “desenvolvimento” dos Bandeirantes (uma cópia barata e infame da migração para o interior dos EUA – lá, partindo das 13 colônias). A população nativa foi sendo massacrada para dar espaço às cidades, indústria, poluição e legados europeus.

O massacre não foi apenas físico, social e financeiro, mas cultural e mental.

Índios subjugados apenas por viverem na simplicidade das aldeias e no cerne das próprias e longínquas culturas.

Acarretou em tribos vivendo nas periferias e subúrbios, a dita civilização chegou ao índio em forma de pobreza, fome, doenças e tecnologia do povo urbano.

Hoje, o Brasil descoberto, colonizado e envenenado, por aqueles com “mais cultura”, está à mercê do joguete de políticos, que mal se importam com o resto da gentalha, coincidentemente ou não, igual aos últimos séculos de colonização portuguesa: senhores no poder, serviçais sobrevivendo Brasil adentro – no modo mais absoluto de sobrevivência: no limite.

Como fora citado, de lá pra cá, só o formato social mudou. Hoje, a “casa grande” são os bairros nobres, o restante ao redor são apenas tribos e senzalas a serviço dos senhores feudais.

O transporte público é uma espécie de pau-de-arara ou navio negreiro: sem condições mínimas, onde os explorados são transportados como gado, depois de serem sugados por capatazes e senhores.

Positivamente, o que difere brasileiros de hoje para os do passado, é que além da aparência (com um povo muito mais miscigenado e com a presença de um número maior de imigrantes do mundo inteiro), o acesso à informação é um dos mais importantes aliados, senão o principal.

Aquele escravo de antigamente, com um pouco de cultura, valia um pouco mais ao senhor dele. Hoje, é igual.

Muitas pessoas, nos dias de hoje, que não nasceram em berço de ouro, conseguiram se destacar através da leitura, de buscar aquele conhecimento que não tem na senzala ou na tribo em que nasceu, tornando-se grandes empresários, intelectuais e políticos.

Outrora nestas terras, a escravidão era física. Massacrados pelos capatazes, milhares de escravos (negros e índios) padeceram. Sem poder fugir ou sem espaço na sociedade daquele tempo, eram confinados a passar toda a vida em cativeiro.

Hoje, após uma suposta Lei Áurea (que garantia a liberdade àqueles escravos), nos encontramos em um sem número de novas e pequenas escravidões: a do sucesso, do comércio, do status. Todas escravidões mentais.

Este tipo de escravidão nos submete a comportamentos mesquinhos, a modos de vida ruins, a empregos infelizes e mal remunerados, por exemplo. Os senhores de hoje tentam nos convencer de que precisamos destes pequenos e enclausuradores modos de vida.

A carta de alforria atual não pode ser comprada… nem será aprovada por nenhuma lei, porque ela combate a escravidão social, particular e mental.

Resta ao candidato à alforria, a coragem da libertação mental. Além disto, a assinatura desta carta só vem através da ferramenta mais libertadora de todas: o conhecimento.