A morte do dançarino e a falência das UPPs

Ele era um artista, um dançarino que morava numa comunidade, antes dominada pelo tráfico de drogas e agora “pacificada”. O Pavão-Pavãozinho. Uma favela na conhecida e cobiçada Copacabana, zona sul da cidade que receberá a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Um dos locais mais visitados por turistas no mundo inteiro. Foi neste lugar que Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, encontrou a morte.
Havia uma operação de policiais da UPP para coibir a venda de drogas. Havia tumulto e o risco de uma bala perdida atingir inocentes. Como, aliás, vem acontecendo com frequência nos últimos meses em outras comunidades “pacificadas” do Rio, seja na zona norte ou zona oeste e, especialmente, em locais ainda sem UPP na Baixada Fluminense. O óbvio mais uma vez se confirmou no Pavão-Pavãozinho: o dançarino fugia do tiroteio e foi confundido com um traficante no momento em que pulava o muro de uma casa para se proteger.
Policiais sem preparo, truculentos, com o aval de um Estado desorganizado e corrupto, mais interessado nos votos que as UPPs trouxeram e trarão, capturaram o jovem artista como se ele fosse um animal que precisasse ser abatido para o regozijo do caçador. O laudo do IML, divulgado pela imprensa, diz que o pulmão da vítima foi dilacerado por algum objeto, que, inclusive, pode ser uma bala. Os familiares encontraram o corpo do rapaz jogado no pátio de uma creche da comunidade, havia marcas de espancamento e de extrema violência.
Ouvi o depoimento da mãe de Douglas numa rádio local, dizendo que dois policiais tomavam conta do cadáver para que ninguém se aproximasse. Ele seria mais um Amarildo. O corpo iria desaparecer e a família não teria, sequer, o direito aos ritos fúnebres. Mas o clamor da comunidade foi mais forte e, imediatamente, centenas de moradores, amigos e parentes do dançarino tomaram conta de ruas e acessos ao morro para protestar. A polícia, claro, agiu com mais violência e matou outro morador. Um homem de 30 anos foi atingido com um tiro na cabeça no instante em que PMs da UPP reprimiam a manifestação com balas de verdade, as de borracha não foram usadas desta vez.
Eles fizeram mais uma vítima e a imprensa vai reproduzir o discurso de que os protestos, com atos de “vandalismo”, foram orquestrados por traficantes. O governador Sérgio Cabral Filho, reeleito na farsa da Polícia Pacificadora, já deixou a bomba pro Pezão, pois agora ele tem outras aspirações políticas. O Pezão vai dizer que tudo isso será devidamente investigado e irá convidar os familiares do dançarino para um encontro no palácio do governo. Já o secretário de segurança dirá que o “sucesso” das UPPs está provocando um reação violenta do tráfico, que perde força a cada ano.
Vamos em frente e que venha a Copa de 2014!