Violência

DG sentia saudade do traficante Cachorrão… e daí?

servido por: Bernardo Iwalski

Antes que venham com aqueles comentários infantis e clichês (como: “tem pena de bandido, leva pra casa”, “esquerda caviar”, etc.), deixe-me esclarecer que não sou de esquerda, desprezo a figura do Che Guevara e se tem um lugar nesse mundo que eu não faço a menor questão de conhecer é aquela “Paquetá diabética” (como diria um dos professores mais brilhantes que já tive), que atende pelo nome de Cuba.

Superada essa questão, vamos ao assunto mais comentado no Rio de Janeiro: a morte do dançarino do “Esquenta!”, Douglas Rafael, conhecido como DG.

Após todos os protestos e desdobramentos, sou surpreendido com o texto – Dançarino Douglas sentia “saudades eternas” do traficante Cachorrão – de Felipe Moura Brasil, publicado no site da Veja. Nele, o autor afirma que DG não era santo. Tenta eximir a responsabilidade das polícias e justificar a morte de Douglas, repetindo que o dançarino postou sentir saudade de um traficante que aterrorizava a sociedade. Ele fala que não, mas sabemos que é exatamente isso que o autor pretende.

Bom, vamos aos fatos que, até o momento, temos certeza: DG foi encontrado morto; não apreenderam arma ou droga com ele; um laudo pericial preliminar afirma que ele morreu devido à queda de um muro; enquanto outro, posterior ao protesto e às afirmações de que ele fora morto por um tiro, comprova que ele foi atingido e morto pelas costas; o projétil, que matou o dançarino, desapareceu, o que impossibilita descobrir de qual arma ele partiu; jovem nascido e criado na favela; tinha amigos ligados ao tráfico; postou no Facebook que estava de luto pela morte de um traficante.

Essas verdades me levam a pensar que, se mesmo sendo colega de trabalho da Regina Casé, tentaram apontar a causa da morte dele como sendo a queda de um muro e se esforçam, até agora, para justificar o fato de nenhum policial ter identificado o ferimento causado pelo tiro… aposto minhas fichas que, se ele não fosse dançarino do “Esquenta!”, os jornais estampariam a seguinte notícia: “traficante DG é morto após confronto com policiais na comunidade do Pavão-Pavãozinho”. Mas OK, isso é só uma suposição.

Após a descoberta de que ele tinha amigos traficantes (e que postou no Facebook que sentia saudade de um deles), diversas pessoas se manifestaram no sentido de “olha só, tá explicado!”, “não morreu à toa!”, entre outras.

Então, um jovem, nascido e criado em uma favela dominada pelo tráfico, desarmado, merece morrer com um tiro nas costas por ser amigo de traficantes?

É justa a morte de alguém somente por sentir saudade de um amigo criminoso?

Só os “santos” merecem viver?

Tentam justificar as circunstâncias com suposições como: “o que ele estava fazendo… correndo?”, “o que ele estava fazendo… pulando de uma laje para outra?”. Nada disso importa ou terá resposta, o fato é que uma pessoa desarmada foi morta com um tiro pelas costas. Inventem a cena de ação que desejarem na cabeça de vocês, mas a verdade é essa.

E a justificativa para isso é sentir saudade de um criminoso, que ditava as leis dentro da favela, cometia diversos crimes, apavorava uma parcela da população, mas ajudava outra? E aqueles que postam no Facebook e falam, com orgulho, que sentem saudade dos militares, também merecem morrer com um tiro nas costas?