Ele voltou com força total!

Criado na década de 1950 pela Toho Company Ltd., Gojira (para nós, ocidentais, Godzilla) voltou às telonas nesse último fim de semana, gerando grande expectativa. Mas apesar de todos os monstros que sabemos que ele já enfrentou, ou todos os prédios e até mesmo cidades inteiras que ele destruiu (e isso inclui até Nova Iorque), o que pouco se sabe sobre essa grande aberração é o contexto em que surgiu no Japão, no ano de 1954.
Godzilla já participou de muitos filmes, sendo 28 deles produzidos pela Toho, e um lançado em 1998 pela TriStar Pictures (esse sendo considerado um fracasso total). O criador, Tomoyuki Tanaka, lançou a ideia na década de 1950 e contou com o apoio do diretor Ishirō Honda e do especialista em efeitos especiais Eiji Tsuburaya para que o animal (se é que podemos chamá-lo assim) pudesse sair do papel e fosse para as telonas. O primeiro filme produzido foi um grande sucesso entre o público… e o monstro Gojira conquistou todos os japoneses e, posteriormente, o mundo todo.
Os efeitos especiais daquele período eram fracos, portanto a Toho e o especialista da empresa na área decidiram investir na técnica de “suitmation”, que consiste em vestir uma pessoa com uma fantasia e filmar os movimentos dela. Essa técnica ficou muita conhecida no cinema japonês, principalmente nas produções da Toho, que se especializou em filmes de kaiju (monstros gigantes) e ficou como a responsável pelo surgimento do gênero tokusatsu (filmes de efeitos especiais).
O contexto do nascimento de Gojira é o processo de construção, cada vez mais rápido, de tecnologias nucleares. Em 1945, as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, foram bombardeadas pelas armas atômicas norte-americanas. O que, na verdade, foi a demonstração de um novo poder bélico em meio a um confronto de bipolaridade da Guerra Fria, que se estabeleceu ao final da II Guerra Mundial.
Esse episódio marcou a história japonesa. O perigo iminente de uma guerra atômica e ameaças de tamanhos descomunais instauravam, na população mundial, o medo da destruição. É justamente esse temor que cria o enredo para o filme Godzilla. O monstro seria a representação da ameaça nuclear gerada pelas experiências humanas.
O filme de 2014 é interessante, pois coloca – no roteiro – todos esses ingredientes, fazendo menção ao Godzilla de 60 anos atrás. O filme se utiliza da questão da energia nuclear, das bombas utilizadas no período de Guerra Fria (aliás, o modo como se utilizam das bombas no filme é algo sensacional), o episódio de Hiroshima e Nagasaki, ou seja, é uma releitura muito bem-feita do contexto no qual ele foi criado.