Sociedade

Europa, antes e sempre

servido por: Fabio Balek

Quando estudante, ouvia falar muito em eurocentrismo, que é o modo de ver e viver europeu. Naquela época, não entendi muito bem… nem parei para pensar nisso.

Hoje, entendo o que é, inclusive escrevendo neste idioma, um exemplo desta classificação esdrúxula.

Não tenho nada contra os imigrantes europeus, vindos da opressora Europa de sempre, fechada na própria importância (política e econômica) em detrimento dos assuntos do cidadão comum, sempre ligada à exploração global de povos ou nações, dentro ou fora dela mesma.

A Europa, de hoje, fincou idiomas, enfiou religiões goela abaixo, mutou ou exterminou culturas… não apenas no Brasil, mas no mundo.

Explorou o globo a tal ponto, que o deixou revirado, pobre e feio, como as minas de ouro abandonadas e bagunçadas pelos portugueses em Minas Gerais. Levou as riquezas e deixou problemas, como corrupção e modo de vida errante.

Ao ler esse texto, muitos ir-se-ão perguntar o porquê desta reflexão. Ora, simples, os lugares, hoje em dia, tem milhares de problemas, como poluição e racismo.

Boa parte da poluição vem da industrialização global excessiva, certo?

Onde foi concebida a indústria?

Ou melhor, onde houve a Revolução Industrial? Pois é…

Muitos bajulam os EUA, mas os EUA são uma versão americanizada da Europa: culta, rica, próspera. Sim, hoje… mas vive da especulação além-fronteiras e da exploração de povos mais pobres.

Vamos voltar lá no racismo. Hoje, a pujante Europa (não tão pujante assim… só olhar o que foi a Grécia e o que é) vem sendo dominada por algumas forças distintas, mas perpendiculares, que resultam em uma falência social causada por ela mesma.

O crescente número de muçulmanos, a maioria, estrangeiros do norte da África e/ou Oriente Médio, explorados ilegalmente e oprimidos (duplamente: ou são perseguidos e deportados, ou aceitam pobreza, miséria e, muitas vezes, ditaduras fundamentalistas-extremistas nos países de origem).

A xenofobia e movimentos nacionalistas europeus atacam novamente em perseguições aos estrangeiros na Europa, principalmente aos citados acima, de origem muçulmana ou seguidores do Islã. Mas o ser humano tem pouca memória: essas migrações são frutos plantados pelos próprios europeus em um passado recente.

A Europa é o que é, hoje, devido à exploração dos quatro cantos do globo terrestre, colocando todos sob o jugo intrínseco e quase imperceptível do eurocentrismo.

Quer perceber? Pergunte, intimamente, onde nasceu e seu idioma. As respostas serão: Brasil (divisões políticas eurocêntricas que já se formatavam desde o Tratado de Tordesilhas) e português, óbvio.

O amigo Felipe Batista levantou uma questão, em uma postagem, sobre a polícia americana, os negros e impunidade. Esta questão também caminha de mãos dadas com o eurocentrismo, mesmo com toda a indiscutível soberania e poderio dos Estados Unidos da América; mesmo esta nação sendo governada por um presidente descendente direto de imigrantes quenianos, portanto, um afro-americano, do mesmo biótipo perseguido e injustiçado pela polícia daquele país.

A escravidão nas Américas não foi ideia dos índios, que também foram exterminados e escravizados pelos europeus em todo o continente americano. Foi uma ação absurda e exclusivamente europeia, no caso.

Esta ação, que no Brasil durou mais tempo e fez do país o maior importador de escravos no período, está presente no nosso cotidiano e de todo o continente, desde então, de maneira quase sempre brutal, mas, ainda sim, muito diferente daquela época, apesar de toda semelhança.

A polícia dos países americanos continua branca, defendendo uma minoria. Os indígenas foram e são massacrados ainda. Os africanos, que vieram escravizados a contragosto, arrancados da própria terra, em vez de serem reparados adequadamente e tratados de maneira justa pelos governos americanos (todos eurocentrizados com sucesso), recebem esmolas, ficam à míngua, tem transportes péssimos, pouco ou quase nenhum acesso à cultura e educação (de péssima qualidade). Não falo apenas da América Latina… nos EUA, os negros e latinos (que descendem de indígenas mestiços ou não), no geral, vivem nas periferias das cidades, ilegalmente, em regiões violentas, restritos a uma educação de baixíssima qualidade.

Aqui, no Brasil, quando um nativo contemporâneo, às vezes até descendente de europeus, cultiva ou admira alguma coisa local, como religião ou música, já é julgado e tratado diferente.

No mundo, em qualquer lugar, o todo julga alguém culto quando conhece obras renascentistas, músicas clássicas e conhece o Louvre, por exemplo. Quando o oposto, mas não menos culto, prefere conhecer o continente americano e o que lhe é congruente, como reggae, por exemplo, canções folclóricas, é olhado com ressalvas, comparado a um hippie (ou algo do gênero), isto é, com todo o preconceito que concebe o ser hippie.

Pois bem, quem acha que a Europa é o berço da educação e cultura, precisa estudar mais. A Europa tem o charme dela… hoje, organizada, rica e limpa, mas o passado a condena. No entanto, ela sempre esteve “por cima”, como se diz.

Pasmem, quem explora e oprime o pobre sempre estará por cima.

Eu? Tenho o desejo de viajar o mundo, conhecer, sim, a Europa, como quero conhecer o Japão e a Península de Yucatán.

Mas não simpatizo com esse tal eurocentrismo, fazer o quê?

Escrevi em português.

Se me serve de alento, este português é brasileiro, claro.