Cultura

Não se fecha um teatro!

servido por: Alfredo Tambeiro

Todos estavam com uma flor branca na mão.

Todos estavam com um sorriso meio nervoso.

A perplexidade – geral – era uma mistura de horror, indignação e tristeza… e algumas perguntas ficavam no ar, estampadas no semblante de todos:

Como isto pode ter acontecido?

Que tempos modernos são esses, onde se fecha um teatro?

Nem nos anos de chumbo, os teatros foram fechados.

O teatro é um local sagrado, é um espaço onde, se manifesta, a alma, o grito, a tristeza, a alegria de uma sociedade.

Nele, está contido o raio-x da cultura que estamos vivendo.

Por isto, não podemos nos calar.

NÃO SE FECHA UM TEATRO EM TEMPO ALGUM!

Um teatro não é apenas um espaço comercial. Quando um teatro abre, ele polariza a vida ao redor… e foi isto que aconteceu na Praça Roosevelt, até então, um território muito perigoso, esquecido por muitos que viviam nesta cidade. Então desponta um movimento de grupos teatros, que resolve ocupar essa área e a vida volta a desabrochar. Outras turmas vieram, o público apareceu, bares surgiram e mais pessoas passaram a frequentar. E aquele lugar sinistro, agora é cheio de vida, de cultura e boemia.

A vida realmente mudou, por intermédio da presença dos teatros. Agora, há segurança; agora, os imóveis valorizaram; agora, há uma praça reformada com policiamento.

Quer dizer que, depois de tantos benefícios oferecidos, agora, querem expulsar todos de lá?!

A manifestação, com as flores brancas, acabou com todos cientes de que a luta, que teatros e bares da Praça Roosevelt estão enfrentando para continuarem abertos, não é só deles, é uma luta de todos nós, artistas, mas também de todos os cidadãos da cidade de São Paulo.

Neste momento – da nossa história -, o Espaço Parlapatões, Os Satyros, a SP Escola de Teatro, além dos outros palcos e bares, se transformaram em uma referência importante na nossa cidade, onde todos sabem que, lá, há cultura e que, principalmente, esta cultura é acessível.

O Espaço Parlapatões abre as portas para diversos grupos de teatros. Se não fosse este local, alguns destes grupos não teriam como se apresentar (eu mesmo, fui um desses artistas). E quando eu me expresso deste modo, quero dizer: é poder viver do ofício. Então, fiscal, só para o senhor entender, quando a burocracia fecha um teatro, não está só lacrando um local, mas, sim, acabando com a possibilidade de vários outros artistas conseguirem sobreviver da profissão deles.

Nas mesas, há risadas e encontros, são lugares onde a euforia impera. O bar do Espaço Parlapatões, comandado por uma rainha discípula da alegria, acabou se transformando num ponto de encontro de artistas e de pessoas que gostam de conviver num ambiente onde diversidade existe e vive em paz. Sabemos que, infelizmente, existem poucos recintos assim nesta metrópole.

Apesar do prefeito Haddad ter liberado o funcionamento (apenas) do teatro no Espaço Parlapatões, não podemos relaxar. Se não tomarmos cuidado, irão nos tirar esta rua, esta praça, clamando por uma higienização paulistana.

Por isso, peço, para todos que acreditam na importância da cultura, na existência da liberdade, na necessidade da alegria e da diversidade na nossa cidade, frequentem a Praça Roosevelt!