Vida real

Nostalgia da espera

servido por: Thalyta Petean

Eu possuo um dom e sei que o tenho, pois já me vi em várias situações engraçadas, e até difíceis, por causa dele. Eu atraio pessoas para conversar! Às vezes, é totalmente espontâneo: ou porque a pessoa me pediu uma informação, ou porque percebi que ela está com uma dificuldade e resolvi ajudar… e, assim, começamos a papear. Já aconteceu de ser por horas e, em outras ocasiões, por alguns minutos. Isso não me incomoda, na maioria das vezes. Já conheci muita gente legal dessa forma e já encontrei muito louco, mas faz parte.

Ontem, aconteceu um caso específico. Eu estava esperando uma pessoa no shopping e, para passar o tempo, fui passear na Saraiva (eu passeio muito por livrarias, acho gostoso). Estava me encaminhando para a sessão de papelaria, quando uma senhora cruzou meu caminho em direção aos cartões, que estavam ao meu lado. Ela olhou e reclamou:

“Não tem cartão de Natal.”

Eu achei um e mostrei para ela. Mesmo assim, ela ainda reclamou:

“Só tem desses imensos, aqueles simples, não existem mais.”

“Acho que é porque ninguém mais manda cartão de Natal, vai tudo pela internet”, ainda brinquei com ela.

Já tentou achar um cartão-postal nessa cidade? Só existe na Paulista e eles são com fotos da cidade de São Paulo, não tem uns divertidos para mandar.

Então ela me confessou:

“Às vezes, eu escrevo uma carta, compro selo e posto para mim mesma. Só para ter a alegria de receber uma correspondência.”

Achei aquela atitude de uma solidão tão grande e também dum saudosismo (de um tempo que não volta mais). Vivemos numa época de ansiedade, dinamismo e isolamento. Telefonar para alguém é um absurdo. Mandar uma carta ou um cartão-postal, mais absurdo ainda. Vamos nos falando pelo WhatsApp ou Messenger – do Facebook – e não temos mais paciência de esperar a resposta chegar em alguns dias, semanas, meses… queremos para agora. E ai de quem visualiza e não responde!

Também estou nesse time de ansiosos e solitários, mas, ontem, essa senhora muito simpática me fez lembrar do frio na barriga, que eu sentia, cada vez que chegava uma carta da minha amiga Jo. Ela morava em Minas Gerais, na roça… em Matipó, para ser mais exata. Telefone era caro e, na casa dela, nem tinha, então era por correspondência. Era realmente uma delícia escrever, colocar no envelope, levar no correio para pesar e colocar o selo… e esperar ela chegar, porque aí, depois desse processo, eu sabia que, em breve, teria uma resposta. Cada vez que passava pela portaria do prédio, perguntava se tinha algo para mim, exercitava a minha paciência com a espera.

Infelizmente, essa última geração não aprendeu isso… nem sentiu esse frio na barriga de chegar uma carta. Estamos aguardando uma turma ansiosa e impaciente para tudo, pois estamos numa rotação rápida de informação e comunicação. Não temos como parar a evolução tecnológica, até porque não há como negar que ela facilita a vida diária, mas precisaremos descobrir novas formas de lidar com a ansiedade e com a solidão que ela causa a todos, pois, senão, estaremos fadados à loucura coletiva extrema.