O planeta azul
Na escuridão do espaço sideral, uma espécie de nuvem gasosa branca viaja numa enorme velocidade, deixando planetas e asteroides de várias galáxias para trás.
Ela entra na Via Láctea. Ao se aproximar do satélite do planeta azul, diminui o ritmo para um pouso seguro. Aquela forma não era apenas uma simples nuvem de gás e, sim, uma junção de consciências elevadas. Assim que aterrissaram na planície lunar, esta forma de inteligência se transformou em doze espectros.
Todos olham para um décimo terceiro, que não havia viajado junto com eles. Ele estava parado e observava o planeta, que se chama Terra. Lá, os habitantes se autodenominavam humanos.
Os doze se dividem em dois grupos de seis, deixando o irmão restante no meio deles, que fala antes de todos:
– É tão curioso um planeta, que é azul como água, se chamar Terra.
Entre as diversas formas de vida, não há algo sequer semelhante a nós. Na verdade, eles nem conseguem imaginar uma existência como a nossa.
Lá, existe uma forma de vida dominante. Mas esses seres brigam entre eles, matam porque não se reconhecem como conjunto. Eles se separam porque o invólucro é diferente: alguns são brancos, outros levemente amarelados, outros são negros como a noite e há outros que são derivações das misturas entre eles.
Vi muitas formas de guerras. Alguns irmãos acreditam numa forma de divindade e matam os outros que não acreditam. Brigam por terras ou lutam simplesmente pelo poder.
Os doze irmãos ficaram horrorizados com as primeiras palavras proferidas… isto não era concebível para eles.
– Mas nem só de horror vive este planeta, há uma estranha curiosidade: a contagem de tempo.
Para os humanos, o tempo se resume em anos. Cada ano tem 365 dias… e cada dia tem 24 horas, além de ser dividido em dia e noite. Assim, eles marcavam cada ano que passava.
Os irmãos acharam graça da ideia de que um ano começa e acaba, já que, para eles, o tempo simplesmente existia e não poderia ser aprisionado nesta conta. Eles indagavam porque, dentre todos os acontecimentos, este foi o escolhido para contar.
– O começo de um novo ano é um grande acontecimento: pessoas saíam das casas por causa das luzes iluminando a noite; havia barulho do brinde, onde todas desejavam algo de bom para todas; outras pulavam sete ondas; algumas rezavam, meditavam, faziam promessas…
Este evento é quase mágico, já que por algumas horas… ou melhor, por um dia, a grande maioria dos terráqueos acreditava na mesma ideia, não importando raça, religião ou classe social. “Tudo novo de novo” e, com isto, geravam uma energia tão grande, que brotava – nas almas – a esperança.
E, com ela, eles poderiam realizar os sonhos de terem uma vida feliz.
Os doze espectros acharam engraçado, mas – ao mesmo tempo – eles conseguiam ver que, na esperança, despertava um lado bom dos homens. E quanto mais eles vibrassem, mais a felicidade poderia se tornar real e de uma forma tão intensa e duradora que nenhum dos habitantes deste planeta havia ainda sequer sonhado.
Eles viraram para o irmão e perguntaram:
– Já é o momento de revelarmos a nossa existência para eles?
A resposta foi negativa, mas este “não” continha uma esperança de que, quando os humanos transformassem o planeta num lugar com mais amor, eles poderiam se revelar… e que ele ficaria ali, observando o progresso de todos e os chamariam de volta quando o momento da revelação chegasse.