A Casa das Flautas

Na cultura dos povos indígenas que habitam o norte do país, mais especificamente aqueles que vivem no território do Acre, houve um tempo em que as mulheres dominavam toda a organização da aldeia e tomavam as decisões mais importantes. Desde a forma como deveriam proceder com a agricultura, passando pela criação das crianças e ainda com a responsabilidade de ocupar os cargos fundamentais para a preservação das tradições destes povos.
No entanto, o matriarcado indígena não durou muito tempo, porque alguns homens se revoltaram contra o domínio das mulheres e, após uma grande disputa de poder, acabaram por instaurar o patriarcado. O que se viu – depois disso – foram grandes guerras entre os índios, que abandonaram o caminho da diplomacia para resolver as diferenças (com outras etnias) de forma sangrenta. Os espaços territoriais também eram disputados com arcos e flechas. Tempos de violência na floresta.
Com receio que as mulheres reivindicassem o poder mais uma vez, após a desastrosa conduta política dos homens, os índios mais velhos criaram a Casa das Flautas.
O local era um espaço sagrado, onde as mulheres eram proibidas de entrar e onde ficavam guardados objetos de poder. Na Casa das Flautas eram realizados, ainda, os mais importantes rituais mágicos que garantiam a fertilidade e a abundância na colheita. Assim, as mulheres estavam excluídas de qualquer participação nas decisões da sociedade indígena.
Esse pequeno recorte, da cultura dos índios das terras do Acre, serve para corroborar um discurso da sociedade não-índia: os homens ainda precisam aprender – e muito – com as mulheres. Seja na habilidade de fazer política, seja na sensibilidade inerente ao ser feminino, que permite enxergar os problemas de uma forma menos cartesiana e mais subjetiva.
Ao longo da minha vida, as mulheres – que encontrei no caminho – me ensinaram muito mais do que todos os homens. Elas eram amigas, companheiras, mães, profissionais, sensíveis e guerreiras. E, acima de tudo, havia uma magia misteriosa presente apenas nos olhos das mulheres.