Mulheres

Teste de empatia

servido por: Erick Heras

Maria Clara é uma jovem nordestina, recém ingressou em uma universidade federal, aos 18 anos. Negra e feminista, causou comoção no Facebook ao postar um profundo relato sobre a condição de mulher negra e de família bastante humilde, que – na contramão das estatísticas – deu este importante passo acadêmico na vida. Abriu portas da visibilidade para muitas garotas parecidas com ela, Brasil afora.

Apesar da maturidade exacerbada para a idade e total noção das próprias condições dentro da sociedade em que vivemos, não conseguiu evitar se sentir humilhada por ter o corpo invadido na última semana, ao ser apalpada por um homem enquanto passava pela rua. Ele bolinou e falou coisas nojentas para ela, que seguiu caminho, assustada e humilhada. O relato dela foi parar no Facebook, em meio a tantos outros.

Maria Clara é uma garota de sorte.

Lavínia é youtuber. Uma jovem de 20 anos. Tem milhares de seguidores e é muito possível que você já tenha esbarrado com um dos hilários vídeos dela¹. Muito consciente de si, não teme exagerar nos vídeos para arrancar riso de quem assiste. Divertida, debochada, corajosa!

Recentemente, teve as redes sociais infestadas por “haters”, que tanto pressionaram, abusaram de ameaças de morte, que Lavínia teve o brilho arranhado. Ela fez um vídeo emocionado, onde deixa claro o peso daquele ataque e, em frente à câmera, raspou os cabelos. Declarou estar em depressão.

Uma fã fez um vídeo-homenagem, chorou e também raspou a cabeça em apoio. Conseguiu tocar Lavínia, que – mesmo estando doente – voltou para a internet disposta a enfrentar essa batalha virtual.

Lavínia é uma garota de sorte.

Laura, jovem de 18 anos, saiu da casa dos pais numa sexta-feira, bem produzida e seguiu para uma festa, em uma movimentada rua da zona leste de São Paulo. Por volta das quatro da madrugada, estava desnorteada, ensanguentada, andando pela avenida e pedindo socorro. Foi filmada neste momento de desespero. A polícia foi chamada. A partir deste ponto, tudo fica confuso: os policiais, que chegaram para socorrê-la, disseram – em depoimento – que Laura tentou fugir (inclusive dirigindo a viatura deles), bateu em um poste, foi atropelada por um ônibus e, em seguida, ainda confusa, bateu com a cabeça em outro poste. Uma testemunha confirmou tudo. Só que eles mentiram. Na versão apurada, Laura foi espancada pelos PMs, além de ter levado um tiro no braço.

Naquele dia, os pais de Laura perdiam a filha, de apenas 18 anos. Laura, então, entrou para a estatística.

Maria Clara, Lavínia, Laura: apenas garotas. Maria Clara, Lavínia e Laura não pediram para ser abordadas – nem violentadas. Maria Clara, Lavínia e Laura fazem parte de uma estatística macabra, onde Maria Clara e Lavínia, apesar da realidade dura que vivem, são consideradas sortudas, pois a realidade de Laura é a mais comum.

Maria Clara, Lavínia e Laura são mulheres transexuais.

¹Lavínia é conhecida pela personagem Romagaga