História

O verdadeiro golpe

servido por: Leonardo Cohen

Paris em guerra. O ano: 1848. Uma revolta popular derrubou Luís Felipe, o rei burguês. Uma junta governativa decretou que a França – a partir de então – era uma república, a segunda na história. Carlos Luís Napoleão Bonaparte, se aproveitando do nome do tio, se elegeu presidente com larga vantagem sobre o segundo colocado e tomou posse em 10 de dezembro.

No Parlamento, a maioria era do Partido da Ordem. Um balaio-de-gato que reunia monarquistas. De um lado, os que queriam a dinastia dos Bourbon de volta ao trono, perdido em 1789 e, depois, em 1830. Eles eram chamados de Legitimistas. O segundo grupo, dos Orleanistas, pretendia que uma família real assumisse o poder, a mesma de Luís Felipe. Todos burgueses.

Luís Napoleão entendeu rapidamente o jogo do Partido da Ordem, dançou a valsa capitalista e, com os partidários, montou o próprio ministério. Tudo funcionou direitinho durante três anos. O presidente deveria entregar o cargo em 1852, pois a Constituição proibia a reeleição.

As constantes tensões entre os parlamentares e o presidente geraram um resultado surpreendente. No dia dois de dezembro de 1851, Luís Napoleão fez aquilo que os franceses chamam de coup d’etat. O verdadeiro golpe de estado. Ele rasga a constituição e toma o poder para si.

O sobrinho fechou o parlamento, transformou a França novamente em monarquia e se autoproclamou Imperador Napoleão III.

Karl Marx descreveu – com detalhes – os acontecimentos no livro (um clássico) “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”. Marx achava que Luís Napoleão era um aventureiro. Um idiota com carisma que enganou a todos. Napoleão III permaneceria no trono até 1870, derrubado por um outro golpe, após perder a guerra contra a Prússia.

Também no dia dois de dezembro, 164 anos depois, o processo de impeachment de Dilma Rousseff é aceito pela Câmara dos Deputados. No último dia 31 de agosto, após grande debate e amplo direito de defesa da presidente, ela foi afastada na votação final do Senado. Para os parlamentares, Dilma pedalou nos gastos dos projetos sociais e abriu créditos complementares sem a aprovação do Congresso. É importante ressaltar que um processo de impeachment tem um viés muito mais político que jurídico. Exatamente como no parlamentarismo, se o chefe de governo tem base parlamentar, ele permanece no poder, se não tem… cai. O cadafalso se abriu porque a petista não dialogava com o parlamento e jogou o país na maior crise política desde os anos 30.

Ou seja, essa ideia de golpe não se sustenta. Os 54 milhões de votos dados a ex-presidenta também foram para Michel Temer. Na urna eletrônica, são os dois que aparecem.

Antes de falar em golpe, lembre-se de Luís Napoleão, Jango, Getúlio, D. Pedro II, mas não de Dilma.

Bem, ela perdeu o mandato, mas não os direitos políticos. Por causa de uma manobra nojenta e inconstitucional dos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski.

Quero deixar claro que não sou a favor de Temer, a melhor solução seria uma nova eleição, mas ele tem que dar no pé até o fim deste ano. A partir de 2017, essa prerrogativa vai ser do Congresso Nacional… aí, meu amigo, pode vir algo muito pior.