Deslulificação já ou a esquerda morrerá
Dia cinco de março de 1953, morria em Moscou o homem chamado Iossif Vissariónovitch Djugashvili, mais conhecido como Josef Stalin. Tinha 74 anos de idade e, desde o desaparecimento de Lenin em 1924, era o secretário-geral do Partido Comunista. Ele foi o cara que comandou – com mão de ferro – a União Soviética. A morte o fez virar mito.
Graças a uma forte máquina de propaganda, que uniu rádio, o jornal Pravda e o cinema, foi criado um culto à personalidade de Stalin, algo muito parecido com o que Hitler fez na Alemanha. Ele virou uma espécie de papa do comunismo internacional. A palavra dele era lei e os grandes líderes comunistas do mundo precisavam dessa benção.
Após a vitória na Segunda Guerra Mundial, ele ficou ainda mais forte e poderoso. Era o grande líder dos povos, o homem que fez a União Soviética virar uma superpotência econômica e militar, no mesmo patamar dos Estados Unidos. Stalin era adorado e cultuado como um santo.
A imagem de Stalin era mais importante que a de Lenin, o grande líder da revolução russa. Durante o governo dele, surgiu o termo stalinismo, uma corrente da ideologia marxista. Ai de que pensasse diferente.
Com a morte de Stalin, Nikita Khrushchov assumiu a liderança na União Soviética. Em 25 de fevereiro de 1956, o primeiro-secretário surpreendeu a elite soviética com um discurso de cinco horas, em que espinafrou Josef Stalin, atacando “a intolerância, a brutalidade e o abuso de poder” do antecessor no cargo. Isso aconteceu durante o 20º Congresso do Partido Comunista. Esse processo ficou conhecido como “desestalinização”.
A bosta foi jogada no ventilador. Stalin prendeu, perseguiu e matou milhões de pessoas. É considerado um dos maiores genocidas da história. Pelo menos, 20 milhões de pessoas morreram durante a ditadura dele.
Faço então um paralelo aos dias de hoje. Desestalinização. É o que a esquerda brasileira deve fazer neste momento. Não mais com Stalin. Mas, sim, com Lula. Iniciar o processo de deslulificação.
Isso mesmo: deslulificação.
As denúncias da Operação Lava Jato jogaram luz sobre o maior esquema de corrupção da história da humanidade. Essas denúncias colocaram em xeque a integridade do líder máximo da esquerda brasileira.
O escândalo do mensalão, a Operação Zelotes, a construção dos estádios da Copa do Mundo e, principalmente, a Lava Jato demonstraram que o PT preferiu roubar os cofres públicos e se aliar aos grandes empresários do que governar para os trabalhadores. Os avanços sociais conquistados são importantes, porém o projeto original era libertador e, agora, é apenas clientelista.
Lula tinha uma história fantástica de lutas; o retirante nordestino que virou líder sindical; aquele que lutava por um país mais justo e honesto; que se vendia como um político diferente, mas demonstrou ser um político como outro qualquer. Durante o governo dele (2003-2011), fez alianças com figuras nefastas e espúrias. E trabalhou para facilitar a vida de empreiteiros e outros empresários inescrupulosos. A sucessora foi um desastre na política e na economia… e acabou expulsa do Palácio do Planalto num processo de impeachment.
Não importa se ele foi/é dono do sítio ou do triplex. Quando me perguntam: “onde estão as provas?”, eu respondo: na mesa de Sérgio Moro e do Ministério Público. A grande quantidade de depoimentos – provocados pela delação premiada – demonstrou que Lula, assim como Stalin, não é santo.
Mesmo liderando as pesquisas de opinião, o ex-sindicalista não tem mais moral para governar o país. Há aqueles que o veneram como um Dom Sebastião do século XXI, exatamente como os velhos marxistas faziam com Stalin. Acreditam que o ex-presidente está sendo perseguido por um projeto maligno das elites.
A esquerda brasileira precisa – imediatamente – de novas lideranças nacionais. Novidade mesmo. Com certeza, você vai pedir nomes. Não sei, talvez Haddad, Molon, Freixo, Randolfe. Marina e Ciro já eram. Se não se organizar logo, vai ser engolida pela onda direitista e conservadora. Olha o Doria aí crescendo… ou algo pior: Bolsonaro.
Lula precisa sair de cena. Ele é réu em cinco processos e pode acabar inelegível. Por isso, repito: o país precisa da ascensão de novos líderes socialistas.
Mas o homem não quer largar o osso e só pensa em voltar ao poder. Com essa atitude egoísta, o movimento lulopetista (ou neo-queremista) está jogando uma pá de cal na esquerda brasileira.
Neste momento político perigoso, em que a paixão vem na frente da razão, as soluções ficam mais difíceis. A esquerda precisa se organizar e fazer um exame de consciência… e reconquistar as massas. Vamos deslulificar já!