Reflexão

Mendicus

servido por: Fabio Balek

Outro dia, conversava com um amigo sobre comer lixo.

É.

Como comemos mal, nos alimentamos de maneira inadequada, não nos preocupamos com o que ingerimos, com o que colocamos pra dentro do organismo – vale do refri na hora do almoço à energia que absorvemos no trabalho ou de pessoas negativas.

Comer lixo não quer dizer que comemos lixo.

Até compramos lixo…

Nos entupimos e nos satisfazemos com lixo alimentício.

E sem revirar nada… nem comer restos de outras pessoas.

Mas compramos, nos entupimos e nos satisfazemos com lixo alimentício.

Quando for ao mercado, preste atenção nas prateleiras, leia rótulos e composições… enfim.

Graças a esse raciocínio – que voltarei para desenrolar com calma, um outro dia, neste mesmo canal –, atribuí os mesmos valores às pessoas e cheguei a um personagem social bem real: o mendigo.

Calma, não confunda as coisas.

Estou falando da relação de consumo, OK?

O mendigo é um morador das ruas, certo?

Mas nem todo morador de rua é um mendigo.

Ele tem algo mais, mas isso é subjetivo – tem quem discorde e julgue todo morador de rua como uma coisa só.

Sem prolixidade, vamos ao que interessa.

A origem da palavra mendigo sugere alguém deficiente – físico – que, por essa razão, não pode trabalhar e vive da misericórdia dos outros.

Dá para discorrer só pelas etimologias da vida. Mas, não… nem hoje, nem agora.

Em outro caso, mendigo significa, de modo mais pragmático, alguém que pede, que necessita de caridade alheia, que até implora.

Mendigo é alguém que a sociedade despreza, por ser avesso àquilo que a própria sociedade entende como sucesso.

O mendigo é solitário, miserável e feio – isso é da subjetividade de cada um, OK?

Estou ilustrando – meu ponto de vista – o modo como a sociedade o enxerga… hipoteticamente.

Pois bem, mas já parou para pensar que até a pessoa mais bem-sucedida tem um momento de mendigo?

Impossível?

Mude sua episteme.

Por mais bem-sucedida que uma pessoa seja, ela está sempre mendigando alguma coisa, observe:

Mendigando amor.

Mendigando sexo.

Mendigando aumento.

Mendigando amizades.

Mendigando trabalho.

Mendigando tempo.

Mendigando…

Querer, pedir, desejar, OK.

Mendigar lhe coloca numa posição de impotência e dependência muito maior.

Emocional inclusive.

Fragiliza.

E vem sempre o próximo passo, que é se aprofundar. Depois, vem as doenças modernas, como ansiedade, depressão e pânico, por exemplo.

Vem também as mais variadas dependências químicas ou fugas, como dormir ou comer excessivamente…

As causas são as mais variadas. Mas voltando ao mendigo da sociedade, aquele ser abandonado, que vive perambulando pelas ruas… o que causa isso é a carência de alguma coisa.

Para alguns, é social, é dinheiro… isso é até mais tátil e, por isso, mais fácil (ao menos de entender).

No mendigar emocional, o ruim é quando não se sabe o que é ou o que queremos. Pode ser um emprego novo; ou “largar tudo e viajar”; ou estudar; ou ter muitos amigos, casar e ter filhos; ou uma promoção, não importa. No fim, todos nos sentimos reféns dos sentimentos. E o que faremos com eles nos fará mendigos de algo, pedintes da vida… por aí afora.

Voltando à etimologia, deixe de pedir, pare de depender da misericórdia dos outros, conquiste!

Seja você mesmo.

Se mesmo assim, a solidão permanecer e o seu objetivo não for alcançado, OK.

Persista ou vire a página.

Não ganhe por dó dos outros. Ganhe por você.

É libertadora essa sensação de independência dos outros… principalmente, a emocional.

Passar a fazer coisas porque quer, por vontade própria, é melhor, muito melhor do que fazer para se encaixar, para ser aceito. É melhor ser perene e pouco do que muito, mas raro.

Na etimologia, o ato de mendigar é feito em última instância. Então… por que desistir tão cedo e aceitar essa condição, mesmo quando se tem a chance de lutar?

Paz.