Documentário

Laerteando

servido por: Vitor Leobons

Acabou de estrear na Netflix, o primeiro documentário brasileiro produzido pela própria…

E o tema é interessante: Laerte e a respectiva transformação.

Fiquei pensando pra caralho no documentário… se eu – homem, branco, hétero – seria uma boa escolha para falar sobre.

Mas quando você começa a pensar no filme e entende, de verdade, o que as diretoras estão querendo dizer – por intermédio das palavras da Laerte –, fica claro que o homem, branco e hétero é um dos principais alvos do documentário!

A forma da artista encarar a própria transformação e os ritos – aos quais ela se submete – podem (e devem) nos ajudar a repensar algumas imposições, regras sociais (de postura e imagem) que as mulheres precisam seguir e os homens, não…

Para mim, Laerte-se acabou sendo 01h40min de revelações e epifanias; de uma conversa leve, sincera, delicada e sem pudores entre duas mulheres…

01h40min que passou sem ser notada…

O filme é tão honesto e despretensioso na realização, que acaba tornando temas incômodos – para uma sociedade tão preconceituosa como a brasileira – em algo extremamente natural e simples. Como o tema realmente é e deve ser abordado!

As poucas críticas negativas que li sobre o longa, são sobre o fato de a carreira artística da Laerte praticamente não estar no filme.

Temos algumas tiras animadas, ilustrando alguns pontos da conversa. Em um determinado momento, acompanhamos a ida dela ao lançamento de uma exposição sobre o próprio trabalho. Mas é só! E, para mim, é muito claro o porquê dessa escolha: a artista é genial, teve e tem uma carreira importante pra caramba nos quadrinhos nacionais! No entanto, a persona Laerte – hoje – é muito mais imprescindível! O que representa, as vozes as quais ela dá vazão, são tão ou mais relevantes que a obra artística.

A artista Laerte nos diverte, nos entretêm, mas a figura Laerte nos faz refletir sobre nós mesmos e nossa postura com os outros. E, mesmo sem querer, Laerte parece totalmente ciente desse papel. Como toda mulher forte e poderosa, ela aceita e assume as responsabilidades!

Metaforicamente, é como se ela fosse – com as revelações – se despindo durante o filme e nos convidando a rever muitos dos nossos conceitos. E, por isso, a cena final é tão delicada e honesta…

Em um determinado ponto, Laerte se diz ser uma pessoa que não é reconhecida pela audácia… eu não podia discordar mais! É uma mulher corajosa, valente, ousada… e essas são as definições de uma pessoa audaciosa!

Laerte-se, no final das contas, acaba sendo uma reflexão sobre liberdade, sinceridade, felicidade e também preconceito. É representatividade… é aceitarmos nós mesmos e os outros.