Música

O novo disco de Chico Buarque: romântico e contestador

servido por: Otto Herok Netto

Enfim saiu o tão aguardado novo disco de Chico Buarque. Desde 2011, com o álbum “Chico”, que o poeta carioca dos olhos verdes não lançava uma nova coleção de canções.

Porém, diferente de outros anos, “Caravanas” já nasceu polêmico. Tudo graças à primeira música de trabalho, “Tua cantiga”, que causou alvoroço e revolta no nosso tribunal facebookiano diário. Nossa Geni foi chamada de machista, logo ela que escreveu “Olhos Nos Olhos”. Depois, a crítica veio por causa do amor romântico, e não político, da canção. Os críticos – de login e senha – esperavam 10 minutos de Chico gritando “FORA TEMER”, em sustenido e bemol.

Vamos ao que interessa… e pensar juntos – uma a uma – cada canção:

1. Tua cantiga (Chico Buarque e Cristóvão Bastos, 2017)

A mãe de toda a polêmica. O cantor e compositor foi apedrejado em praça pública por causa dos versos que diziam: “quando teu coração suplicar / ou quando teu capricho exigir / largo mulher e filhos / e de joelhos / vou te seguir”.

Polêmicas à parte, a canção é uma balada sofisticada, com letra romântica, bem ao estilo Chico Buarque. Aliás, o próprio responde que “machismo é ficar com a família e a amante”.

2. Blues pra Bia (Chico Buarque, 2017)

Os puritanos ainda não terem caído de pau em cima dessa linda canção é um milagre. Aqui, Chico canta a desilusão de um rapaz, que tem amor – não correspondido – por uma moça, pelo simples fato de que, no coração de Bia, meninos não têm lugar. E mesmo que o personagem da letra queira se transformar numa dama para namorá-la, ela não quer saber. Genial.

3. A moça do sonho (Chico Buarque e Edu Lobo, 2001)

Uma das canções que não é inédita. Está na trilha sonora do musical “Cambaio”, de Adriana e João Falcão. Mesmo antiga, é de linda melodia.

4. Jogo de bola (Chico Buarque, 2017)

Um dos assuntos preferidos de Chico: o futebol. O torcedor do Fluminense canta versos comuns do linguajar futebolístico. Ágil e certeira como um drible… e cativante como um canto de torcida ou um estádio lotado. Linda tabelinha dos músicos para um gol de placa de Chico Buarque, o camisa 10.

5. Massarandupió (Chico Buarque e Chico Brown, 2017)

Composição em parceria com o neto, Chico Brown, que realça as belezas da praia naturista de Massarandupió, na Bahia. O garoto, de 21 anos, toca guitarra ao lado do avô. Letra simples e bonita, melodia deliciosa… que nos faz desejar – imediatamente – estar pelado, debaixo de um coqueiro no litoral baiano.

6. Dueto (Chico Buarque, 1980)

Canção de 1980, ganha brilho novo nesta versão em que Chico canta ao lado da neta, Clara Buarque. A música tem vida própria e Clara faz, por alguns momentos, com que esqueçamos da gravação original com Nara Leão. Ao final, os dois fazem um duelo de versos com nomes de redes sociais. Candidata a próximo single.

7. Casualmente (Chico Buarque e Jorge Helder, 2017)

Gracioso bolero, cantado em espanhol e português, ao melhor estilo de Havana. Aliás, originalmente, quem iria cantar – com Chico – seria a cantora cubana Omara Portuondo, mas acabou não acontecendo o dueto.

Aliás, os haters xingarão Chico Buarque e o mandarão ir para Cuba. Tudo por causa de um lindo bolero, daqueles bons de dançar de rostinho colado.

8. Desaforos (Chico Buarque, 2017)

Já que mencionei os haters, aqui, Chico discorre sobre uma mulher que vive falando mal dos outros. O mulato que toca boleros, mas que dá dissabor na dama florescida nos salões chiques.

9. As caravanas (Chico Buarque, 2017)

Um soco no estômago da classe média, que exclui o que é diferente. O retrato fiel do Brasil nos dias de hoje: racista, segregador, reacionário.

“Tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria
Filha do medo, a raiva é mãe da covardia
Ou doido sou eu que escuto vozes
Não há gente tão insana
Nem caravana do Arará”