O cidadão de bem, agora, fecha exposições
O mais recente capítulo – de uma dura realidade brasileira – acaba de acontecer, aqui, na capital da República da Bombacha, a cidade de Porto Alegre. Uma exposição que celebrava a diversidade, chamada de “Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, foi fechada após pressão de um grupo conhecido como Movimento Brasil Livre, o popular MBL… que, na verdade, nada mais é do que um bando de jovens brancos da classe média, reacionários, religiosos, preconceituosos e muito bem articulados nas respectivas ações.
Vamos aos fatos: a exposição foi aberta ao público, no Santander Cultural, com um forte apelo libertário e democrático. As obras (veja no fim deste post) celebram a diversidade e expressão sexual, algo muito debatido nos dias de hoje. Nas redes sociais, o Movimento Brasil Livre começou uma forte pressão para retirar a mostra da programação do museu, que fica no centro da capital gaúcha. Há relatos de visitantes que foram constrangidos por integrantes do MBL enquanto passeavam pelos corredores do “Queermuseu”. Conversei com duas garotas que foram chamadas de “pedófilas”, “sapatonas” e “vagabundas”, num bonito domingo de sol.
O mais incrível é que o Santander Cultural, que antes havia capitalizado uma bela mídia nacional por conta do tema da exposição, cedeu às pressões e resolveu fechar a mostra. E, pior, usou um argumento covarde para isso: “motivos de segurança”. A instituição temia ataques mais fortes dos reacionários, que viram, ali, naquelas obras de arte, “coisas profanas”, “blasfêmias”, “pedofilia”, “zoofilia”, etc. Eles entendem que símbolos religiosos, especialmente católicos, foram “atacados” pelos artistas.
Chegamos em 2017: o ano em que o cidadão de bem fecha exposições e quer matar a arte e a cultura. Até juristas ouvidos pela imprensa local, mais especificamente o jornal Zero Hora, avaliaram que enquadrar a mostra como crime seria deturpar o que dizem as leis, tanto quanto as obras.
A comunidade artística, não só no Rio Grande do Sul, parece ter acordado após a vergonha presenciada e resolveu levantar a voz. Em pleno mês Farroupilha, há uma espécie de revolução. A polêmica é notícia no mundo todo. Debates acirrados são travados nas redes sociais e um protesto pela livre expressão foi realizado em frente ao Santander Cultural. A verdade é que: quando a arte é censurada, temos um problema muito mais sério do que parece.
A arte, em todas as formas, nada mais é do que a expressão livre de sentimentos e contestações, fazendo frente a sociedade. Quando isso esbarra no cidadão de bem, os ataques tendem a ser em nível de guerrilha.
Essa ação do MBL é uma tentativa grosseira de demonstrar força. Quase como um cartel que planeja ataques e, logo após, os assume. Está mais que evidente: os intitulados “brasileiros livres” podem ser detentores de um discurso de massa e vão avançar as linhas do ódio. Eles têm eco numa sociedade reacionária, como a do Brasil atualmente. A guerra pelo poder é assim. Então… preparem-se! Porque vem muito mais por aí.