Capitão América: O Primeiro Vingador
Esse talvez fosse um desafio ainda maior que incluir a fantasia do universo de Thor com o “realismo” do Homem de Ferro…
Existia um pé atrás, um preconceito contra o protagonista. Por ele ser apenas um defensor do sonho estadunidense, um representante idealizado daquele país… enfim… sabendo disso, o filme acabou recebendo o título de Captain America: The First Avenger. A grande questão é que Steve Rogers tem muito mais profundidade para ser somente um “americano”. Resumi-lo apenas ao uniforme é um prejulgamento besta e mostra que não se conhece nada do personagem… enfim… desabafo feito!
Joe Johnston foi o responsável por colocar Steve Rogers na mistura que estava formando o MCU. Ele é um talentoso diretor de encomenda! Rocketeer é uma ótima aventura e um filme delicioso! Jurassic Park III é uma bobagem divertida pra cacete e um alívio para a franquia, depois de o Spielberg ter inventado aquele segundo longa. Quem não lembra de Jumanji? Querida, Encolhi as Crianças! Enfim… sem nenhuma personalidade (o que não deve ser considerado um defeito), Johnston sabe conduzir uma grande produção, trabalhar bons efeitos e deixá-la agradável a todos os públicos!
O filme do Capitão segue o mesmo “método” dos outros dois títulos de origem da Marvel Studios. Começa numa cena “dramática” no presente e volta no tempo para nos apresentar o protagonista. Interessante pensar nessa “uniformidade” narrativa, um detalhe que dá uma coerência ao projeto que estava sendo construído. Mas, continuando, a grande diferença, aqui, é que toda a trama vai acontecer no passado. E, mais uma vez, o estúdio não tem medo de se arriscar com a tal fórmula: não faz uma escolha simples e fácil, se mantém fiel ao material original. Ambientar todo o roteiro na Segunda Grande Guerra é apenas uma das belas escolhas do longa, que terminaria de preparar o terreno para Os Vingadores.
O elenco, novamente misturando nomes de primeiro escalão com desconhecidos e atores menos relevantes, é um acerto. Quando anunciaram que Chris Evans empunharia o escudo listrado, os fãs ficaram com pé atrás, ao lembrar dele no papel de Tocha Humana, no fiasco que foram os dois filmes do Quarteto Fantástico de Tim Story. Evans fez os fãs morderem a língua e convence como Steve Rogers: tanto nas cenas de ação, quanto no drama e na comédia. Ele consegue nos transmitir a inocência do personagem, a coragem, a frustração… foi uma ótima surpresa!
A trama segue – à risca – a origem nos quadrinhos; ao mesmo tempo em que a expande e dá mais escopo… e aí temos outro acerto! Rogers só é submetido à transformação física do Projeto Renascimento depois de mais de 20 minutos de filme. Até lá, convivemos com a versão fraca e magrela do personagem. E o efeito utilizado, para que Evans pudesse interpretar o herói durante essa fase, é muito bem-feito e, além do mais, convence! Um começo cirurgicamente pensado para nos apresentar o protagonista e mostrar exatamente o que falei lá no começo: Steve Rogers é muito mais do que a representação dos ideais estadunidenses, é muito maior do que apenas um uniforme e uma bandeira.
A sequência da transformação do personagem é fiel pra cacete aos quadrinhos! O laboratório escondido em uma lojinha… enfim… puro fan service! A cena seguinte mantém o cuidado visual e nos dá um vislumbre das novas habilidades do protagonista.
E, nessa hora, eu não conseguia parar de pensar no filme divertido pra cacete que eu estava assistindo!
Mas, até então, não podia esperar a reviravolta que viria a seguir… novamente provando que estavam conscientes do tema espinhoso e panfletário que poderia se tornar a aventura do Capitão, Rogers é transformado em garoto-propaganda contra Hitler e a favor da participação dos Estados Unidos e dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.
Recheado de ironia, temos um número musical e, novamente, muitas referências visuais das HQs. O uniforme, a cena retratada na capa do primeiro quadrinho. Eles sabiam o que estavam fazendo e o fizeram jogando para os fãs!
Então, temos mais uma virada e a primeira cena de ação realmente gigantesca do filme. Descobrimos, definitivamente, do que o personagem é capaz, somos apresentados – de vez – ao vilão e… aí, o longa, que estava calmamente mostrando as cartas, engrena!
Ação, piadas, desenvolvimento de personagens… é bom demais! Cinema-pipoca de primeira!
P.S. 1: e sendo respeitoso aos quadrinhos mais uma vez, mas sabendo traçar um caminho próprio, a relação com Bucky é muito bem desenvolvida! Uma amizade que terá eco nos filmes seguintes do personagem, afetando todo o status quo do MCU. E, assim como nas revistinhas, a morte de James Buchanan Barnes – no longa – é importante e ajuda na construção do protagonista.
P.S. 2: a participação do Comando Selvagem foi mais um fan service de primeira. Nos quadrinhos, era a equipe de Nick Fury durante a Segunda Guerra, mas como ele ainda não era “o” Fury na cronologia dos filmes, a solução acabou sendo lógica e abriu brechas, que foram exploradas nos seriados Agentes da S.H.I.E.L.D. e Peggy Carter.
P.S. 3: e a Peggy Carter, de Hayley Atwell, se saiu tão bem, que garantiu um curta, uma série e um retorno nos filmes seguintes do personagem!
Mas, voltando…
Como disse antes: Capitão América é um filme-pipoca de primeira! E o nosso único dever, à época, era apreciar e aproveitar a viagem!
Sem perder o ritmo, o filme caminha para um final impressionante – ao mesmo tempo, tenso – e que dá espaço para todos brilharem! O final da luta com o Caveira Vermelha é empolgante e não tem medo de sacrificar o protagonista. Está ficando chato bater novamente na tecla da fidelidade e das decisões corajosas?
Enfim…
Que filmão! Despretensioso, divertido, empolgante, dramático. O último degrau certeiro na escalada para Os Vingadores. E ainda conseguiu derrubar um pouco do preconceito que a grande maioria tinha com o personagem. Filmaço!