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Cavaleiro da Lua | É bom, mas peca pelo ritmo inconstante

servido por: Ronald Johnston

Primeira produção dedicada a um personagem inédito dentro do universo cinematográfico, Cavaleiro da Lua teve uma jornada irregular nesta primeira temporada.

“Lá vem o Ronald falar que detestou, mimizento!”

Calma lá, sem afobação… eu gostei e não foi pouco.

Mas tenho que analisar todos os aspectos e ritmo não foi o forte dessa vez.

Protagonizada por um dos heróis mais desequilibrados e menos conhecidos da Marvel, a série foi anunciada com a promessa de ser a mais louca fatia do MCU. De certa forma, até que cumpriu esse papel, mas não evitou uma armadilha do Disney+.

Assim como WandaVision, Loki e Gavião Arqueiro, foi prejudicada pelo formato “filme de seis horas” do streaming. Isso leva a introduções arrastadas e repetitivas, seguidas de conclusões apressadas e problemáticas, cujo sucesso depende mais do carisma do elenco do que da qualidade do roteiro.

Então, para ser justo, tenho que começar falando de Oscar Isaac… atuação sensacional!

No melhor estilo Ruth e Raquel, ele brilhou!

Começa com Steven, um aparentemente frágil funcionário do British Museum, que começa a questionar a realidade à volta dele ao ser envolvido em um confronto entre divindades egípcias e os fanáticos que as seguem. Depois, vem a descoberta de que sofre com um transtorno dissociativo de personalidade e que uma delas é Marc, um ex-mercenário que aceitou se tornar o avatar do Deus da Lua, Khonshu.

Aí, deste ponto em diante, o enredo vira uma aventura à la Indiana Jones.

Entendeu por que tenho que destacá-lo? Podia dar muito errado, mas acabou funcionando bem demais!

E não foi só ele, todo o elenco merece destaque.

May Calamawy dá a Layla uma sobriedade que cria uma dinâmica divertida com os “protagonistas”.

Aproveitando, tenho que comentar sobre o vilão… especialmente no fim, mais um grande momento de Ethan Hawke na pele do antagonista, Arthur Harrow, seguidor da deusa Ammit.

Porém a mistura entre aventura arqueológica e suspense psicológico atingiu o ápice num quinto episódio emocionante que, infelizmente, preparou terreno para uma conclusão que não teve o mesmo impacto.

Lançado nesta quarta-feira, o sexto e último capítulo promoveu uma conclusão apressada, que abandonou qualquer sutileza em favor de velhos vícios da “fórmula Marvel”.

E isso foi algo que aconteceu na produção inteira.

Embora tenha momentos de ação incríveis, a primeira metade de Moon Knight testa a paciência do público. Por mais que uma contextualização seja necessária ao introduzir um novo personagem, há uma racionalização cansativa, tentando transformar a ideia fantasiosa e mística em algo realista.

Cavaleiro da Lua peca também no uso do questionamento sobre o que é ou não real. O arco, inspirado na fase da HQ comandada por Jeff Lemire e Greg Smallwood, é, sem dúvida, a parte mais insana e divertida, mas é resolvida de forma apressada em um “fim” anticlimático.

Aspas porque já haviam mudado a divulgação de series finale para season finale. Vem mais por aí…

Então poderia ter tido um final bem mais satisfatório se fosse estendido em mais uma ou duas semanas.

Para chegar ao Cairo, por exemplo, onde estão Harrow e Ammit, o Cavaleiro da Lua ganha a habilidade de voar no céu noturno. É claro que não precisa justificar cientificamente cada nova habilidade, mas dons que surgem convenientemente de última hora soam sempre forçados.

Enquanto isso, Layla e Tuéris tem uma conversa trivial e boba enquanto a pirâmide literalmente desaba sobre elas. Ainda que seja divertidíssimo assistir à atriz transitando entre a mortal e a deusa (aula de atuação), parece que só existe para dar tempo do Punho de Khonshu chegar.

Esse é um dos vícios mais conhecidos do Marvel Studios: tentar encaixar piadas e alívios cômicos a qualquer custo.

Mas em uma combinação de ótima computação gráfica com coreografias de luta bem realizadas, os combates empolgam por finalmente colocar todo o potencial desses personagens para jogo. De um lado, Khonshu e Ammit aparecem em versões gigantescas travando uma luta divina, que lembra muito um combate de kaijus (dedicado ao Caio Sandin). Do outro, Cavaleiros da Lua e uma versão superpoderosa de Layla unem forças contra o vilão e uma cambada de lacaios. A parceria entre o casal, aliás, é tão bem realizada que chega a ser uma pena não ter acontecido antes.

E a cena pós-credito apresentou uma surpresa.

Na trama inteira, o público acompanhou o embate entre as duas personalidades: o fodão Marc Spector e o vendedor de lembrancinhas Steven Grant. Quem acompanha o herói desde os quadrinhos, sabia que estava faltando mais uma.

Afinal, os fãs estavam questionando: onde estava Jake Lockley? Conhecido por ser taxista e investigador do submundo nas HQs.

Ao longo de Cavaleiro da Lua, Marc ou Steven saíam de si durante as batalhas mais acirradas. Ao retomarem a consciência, eles percebiam a carnificina ao redor. Um perguntava para o outro quem fizera aquilo e não sabiam responder. Na verdade, era Jake que assumia o controle do corpo e matava quem via pela frente.

Taí a justificativa para os blecautes que tiveram ao longo da temporada.

Gancho para a nova temporada do Cruzado da Crescente. Sem saber, Steven e Marc vão precisar lidar com a existência dessa terceira identidade, que pode se tornar uma grande ameaça ao se mostrar sanguinário sem o menor remorso.

Khonshu disse:

“Marc Spector não tem noção do quão perturbado ele realmente é.”

Outro ponto que devemos criar expectativa… Layla assumiu o posto de avatar de Tuéris, se tornando a Escaravelho Escarlate.

Observação: eu sei que é um homem nos quadrinhos, aceita! Além de terem sobrenomes parecidos (Layla El-Faouly e Abdul Faul).

Não vemos se ela encerra ou não a ligação com a deusa depois de derrotar Ammit, mas é quase certo que ela retorne de qualquer jeito no futuro da franquia.

E o Homem da Meia-Noite…

O colecionador de artefatos raros foi atingido por uma das armas do Cavaleiro da Lua, mas não temos certeza se ele morreu ou não. A volta, no entanto, depende se o Marvel Studios escalará outro ator para o papel ou se aposentará o personagem após a morte de Gaspard Ulliel em janeiro deste ano.

Que comecem as apostas!!!