Motivado por amor e saudade
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”
Este é um pequeno trecho, talvez o mais icônico, de “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias.
Às vezes, vejo pardais… às vezes, algum pássaro diferente, típico da África, passarinhos bonitos, mas… que saudade do canto do bem-te-vi!
Eu, brasileiro, que sempre julguei quem dava as costas, muitas das vezes, criticando o próprio país; que nunca sonhei ou quis trabalhar ou, até mesmo, viver longe do Pindorama (“Terra das Palmeiras”, que, segundo dizem, era assim chamado, o Brasil, pela civilização Tupi-Guarani). Eu que, na casca, posso não parecer ter, latente, a cor do meu povo, mas corre nas minhas veias, meu sangue, minha personalidade, meio nordestino, meio europeu, meio caboclo… tenho a alma verde e amarela… tenho o “jeitinho brasileiro”, que nada mais é que a própria criatividade e jogo de cintura! Perdoem-me se, às vezes, há falta de coesão textual, mas a paixão pela pátria mãe não fala, mas grita, berra, esgoela muito mais alto!
Hoje, há uma distância de sete mil quilômetros, que separam Brasil e Angola, distância que me enche o peito de saudade, de tudo, inclusive do pastel na feira (como paulistano que sou)… mas a mesma saudade da massa do Bixiga, do sushi de qualquer japonês ou até da churrascaria (churrascão do sul)… de uma tapioca em uma rua qualquer, do batuque de um bom samba ou da malemolência de uma sanfona de forró… saudade de uma cervejinha gelada sobre um balcão de padaria, de uma caipirinha, de feijoada, de tanta coisa, lugar e de tanta gente, meus compatriotas.
Quase que diariamente, qualquer música brasileira me enche o peito de alegria e, ao mesmo tempo, de saudade, daquela profunda… mas saudade com orgulho, com amor, com paixão, que enche os olhos de lágrimas. Muitos me perguntariam: “por quê?”. A resposta? Vou dever. É só sentimento. Eu vejo sentido de nascer onde nasci, de ter o RG que tenho, não de São Paulo, nem da Bahia, nem de Rondônia, mas da República Federativa do Brasil.
Há também coisas que me chateiam e que não têm sentido de ser:
Com toda onda midiática dividindo o país, entre pobre e rico, preto e branco, sul e norte, sudeste e nordeste… O Brasil é tudo isso, o Brasil é grande. O que seria das regiões centro-oeste e sudeste sem a força do migrante e do imigrante? A mistura da gente, mistura de músicas, culturas, etnias… todas, vivendo e convivendo. Negros de sobrenome italiano, japoneses de olhos verdes, brancos com nomes nativos… tudo isto existe!
Não vou entrar nas questões políticas, porque, no momento, é desnecessário, né? Chega de desgaste. O dia em que o brasileiro perceber que o país é ele, que é o seu trabalho, sua honestidade, seu jeito de ser, seus valores… aí, sim, o Brasil talvez possa ocupar, para os brasileiros, o lugar dele no mundo. Porque, para o mundo, o Brasil é sensacional.
Ouço sempre que Deus é brasileiro… Ele pode nem ser, mas devido a toda sabedoria, com certeza, Ele vive lá… e depois de fazer o mundo em seis dias, Ele ficou, no sétimo, em alguma praia do nordeste brasileiro.
O Brasil, apesar de tudo, de toda exploração e corrupção que manchou o manto verde e amarelo com lama… de toda briga, de toda luta, de toda história de opressão, exploração e redenção… país de tanta liberdade (hoje) e criatividade, de tanta alegria e de infinitos recomeços, este, é o meu país, sempre será! Mesmo que se separe, que vire meia dúzia de nações estranhas entre si, ele, “gigante pela própria natureza”, me viu nascer, me viu crescer, me ensinou a amá-lo, respeitá-lo e até odiá-lo. Na boa? Estou em um relacionamento sério com ele até a morte, para todo mundo ver! Eu amo o Brasil!