Terça-feira e a importância da personalidade
Não sei qual é o seu dia preferido. Só espero que não seja terça-feira. Espero, no mínimo, que você não seja uma (pelo menos na minha comparação) “pessoa terça-feira”.
Que dia sem personalidade é a modesta, e muitas vezes estéril, terça-feira!
Uma vez, alguém especial me chamou para uma conversa particular e disse, olhando nos meus olhos, algo que todos sabemos, mas nem todos praticamos: seja quente ou frio, mas nunca morno.
Tem algo mais atroz nos traços da personalidade de uma pessoa do que ser “pão com ovo”, “Mario vai com os outros”, “Romero Bri(…)”, não, péra, um “terça-feira”?
A terça é pelega da segunda e cobiçosa da quarta. Não consegue ser nem um, nem outro.
Fica ali, no meio-termo. Esperando o consolo dos que fumam, mas não tragam.
Daqueles que não pagam para ver.
Não existe ao menos um prato tradicional para terça no dia a dia do proletariado paulistano, tanto que, ao contrário dos outros dias da semana, não há um consenso no cardápio. Fica entre o bife rolê (você vai no “PF” sabendo que vai comer bife rolê na terça?) e macarronada com bisteca. Não existe algo específico, como na segunda, quando temos o famoso (e muito bom, por sinal) virado à paulista.
A quarta, no entanto, já é democrática. O mediador dos dias. O cara que aperta as mãos dos outros. Aquele que sorri, te leva para jantar, para o cinema, mas volta cedo para casa. Aquele que aceita uma cervejinha com moderação, que “dá uma passada” no shopping para comprar umas cuecas novas, ou que assiste à um teatro, ou que fica um tempo com os amigos, mas logo estará em casa para, enfim, jantar.
Já a quinta é um dia mais sério, que negocia, ou que termina os trabalhos mais urgentes. A quinta sabe que todo o peso da semana está nas costas dela e pretende resolver tudo, deixando apenas o mais básico para a sexta. A quinta vai numa reunião pós-expediente, bebe um whisky, ou até comparece na formatura daquele primo distante, mas tudo isso com bastante sobriedade, pois sabe que o prazer de verdade fica para a sexta.
Sexta-feira… ah, a sexta!
Sexta é irmã do prazer. Sexta-feira é malandra. Celebradora por natureza. A sexta olha os relatórios com um certo desdém. A sexta, oposto literal da segunda, sabe e faz questão de deixar o antônimo cada vez mais nervoso e estressado, deixando documentos e serviços para serem feitos no fatídico primeiro dia de trabalho. A sexta é libertária. Ela bebe, fuma e cheira sem culpa. Vai atrás de uma boa foda e não se importa em atravessar o sol do irmão mais velho, o sábado. A sexta só ama a lua. Veste a melhor roupa às nove da noite e não volta antes de cinco da madrugada.
O sábado, como descrito acima, é o irmão mais velho da sexta. É um cara mais responsável, mas que também sabe dar escapadas quando quer. O sábado suporta, muitas vezes, a ressaca da sexta e passa a tarde toda se recuperando para, no fim do dia, ir àquele show do Gil no Ibirapuera, fumar um baseado (nem sempre), conversar com um amigo mais próximo ou com aquele par que ele gosta. Esse dia também gosta, sempre que pode, de parques à tarde, rolês de skate ou de bike e de uns embalos de sábado à noite, claro… 😉
Então, temos o dia do folgado. O querido para uns, nem tanto para outros… domingo.
Aquele cara que não está a fim de levantar do sofá para nada. Está convicto que todo o prazer do descanso é dele por herança e não abre mão disso. Ele não se culpa por gastar energia assistindo à famosa sequência “F”: futebol, Faustão e Fantástico. Quando mais corajoso e descolado, até topa passear pelo Minhocão à tardinha. Mas, como todo preguiçoso, sente culpa no fim por não ter feito nada… e, ainda por cima, teme a segunda, que está por vir para cobrar os pecados do fim de semana.
Segunda: o dia do chefe. O patrão. Chefe bom ou chefe ruim, todos se aproveitam da segunda para implantar um sentimento de urgência nos “colaboradores”. Esse dia não se importa que o domingo passou o tempo todo sem fazer nada, ele quer trabalho, ele quer resultado. Quer você de pé logo cedo e exige velocidade nas tarefas. Aquelas que você deixou por realizar na sexta? Sim. Está acumulado, mas você vai ter que fazer. A segunda é intolerante, mal-humorada e, muitas vezes, desumana.
Mas ela tem personalidade.