Uma breve carta para Henfil
Prezado e saudoso Henfil…
Desculpe a ousadia de lhe escrever esta carta, sei que não nos conhecemos. Quando criança, vi algumas charges, que – na minha inocência – eram apenas desenhos engraçados. A primeira vez que realmente fiquei curioso em relação a você, foi quando ouvi seu nome citado numa música, que a Pimentinha cantava lindamente: “que sonha com a volta do irmão do Henfil”.
Depois disso, fiquei curioso com seu trabalho e descobri que o humor ácido nos balões da Graúna tinha a maestria de driblar a censura, dando volume aos sussurros proibidos, naqueles anos de chumbo.
Nesta procura por se fazer ouvir e ser compreendido, suas charges brotaram com muita força nas redes sociais, onde as curtidas são inúmeras e muitas obras são compartilhadas.
Ao ver seu trabalho ser lembrado, surgiram sentimentos, que brigavam entre si.
É possível estar alegre e triste ao mesmo tempo?
O lado bom de rever suas charges é ter a certeza de que a obra de um artista pode ser imortal… e ainda: muitos que não lhe conhecem, agora, estão pesquisando para saber quem foi o criador desses desenhos. Por outro lado, me causou uma certa melancolia, por seu trabalho ainda ser tão atual nos dias de hoje… nunca poderia imaginar que o desenho daquele homem, que berrava pelas “diretas já”, voltaria a gritar – em tão pouco tempo – em outro momento histórico do nosso país.
Que os dizeres do seu desenho “rapazes, achei o inimigo: o inimigo somos nós” seria trazido à tona, para mostrar o perigo da violência que ronda as pessoas nas ruas, pedindo um país melhor.
Você deve estar se perguntando, por que – em 2016 – alguém lhe escreve?
Afinal… o mundo se transformou tanto assim?
Claro que, hoje, há mais liberdade para falar, mas ainda temos que estar atentos para que a nossa voz não seja calada à força.
Então lhe respondo que esta é uma carta de agradecimento.
Obrigado pela sua obra… e saiba que, toda vez que se fizer necessário, iremos resgatá-la de novo.