História

A Revolução Húngara

servido por: Leonardo Cohen

O protesto reuniu cem mil pessoas. Começou com os estudantes, depois o povo se alinhou pelos mesmos motivos. As ruas de Budapeste estavam tomadas. Eles gritavam palavras de ordem: fora, russos! Os populares exigiam o fim da influência soviética na Hungria e eleições livres. No dia 23 de outubro de 1956, a revolta popular irrompeu. O ápice foi a derrubada de uma estátua de Josef Stalin. Algum manifestante pichou as iniciais W.C. no rosto do ditador. Mas Stalin não estava mais no poder, ele morreu três anos antes. O exército e a polícia húngara nada fizeram.

Naquele mesmo ano, a Rússia vivia um processo de desestalinização, promovida pelo novo secretário-geral do Partido Comunista Russo, Nikita Khrushchov. Ele parecia abrir – aos poucos – a URSS para uma espécie de democracia bolchevique. As atrocidades de Stalin eram denunciadas e os métodos loucos de governar eram revistos e debatidos. Foi nesse clima que o povo achou que poderia mudar as coisas. Os húngaros queriam, no poder, Imre Nagy e, não mais, o capacho de Moscou, János Kádár, primeiro-secretário do PC local.

O povo venceu e o reformista Nagy tornou-se primeiro-ministro. No começo de novembro, ele abriu as fronteiras, introduziu o pluripartidarismo, extinguiu a censura e anunciou a retirada da Hungria do Pacto de Varsóvia, a aliança militar dos comunistas durante a Guerra Fria.

Em Moscou, Khrushchov tirou o sapato, levantando-o de forma ameaçadora, e gritou para os generais:

– Isso é inadmissível!

Tropas e mais de mil tanques do Exército Vermelho se deslocaram em direção a capital magiar. János Kádár, primeiro-secretário do Partido Comunista e membro do gabinete de Nagy, revogou os poderes do primeiro-ministro e começou a negociar com Moscou. A resistência contra o Exército Vermelho durou quatro dias e custou a vida de quatro mil húngaros. A luta seguiu por ruas e praças.

Nagy invocou o apoio das Nações Unidas, mas a comunidade internacional não ligou, os olhos do mundo estavam voltados para a crise no Canal de Suez.

No dia 7 de novembro, Kádár retornou a Budapeste como o novo chefe de governo. Nagy, alguns assessores e ministros refugiaram-se na embaixada da então Iugoslávia, onde passaram três semanas cercados por tanques soviéticos. János Kádár prometeu anistia e, só assim, eles deixaram a embaixada. Na verdade, tudo não passou de uma mentira, porque Nagy foi preso pela KGB e deportado para a Romênia por negar-se a renunciar ao cargo que ocupava.

Enquanto isso, em parte da cidade de Budapeste: prédios destruídos, tanques pegando fogo, corpos nas ruas.

Num processo sumário, ele e alguns ministros foram condenados e executados em 16 de junho de 1958. Nagy e outros dois mil indivíduos foram enterrados em valas comuns. Imre Nagy só foi reabilitado – e sepultado numa cerimônia oficial – em 1989, após a derrocada do comunismo. Até hoje, 60 anos depois, a chamada Revolução Húngara é estudada e vista como precursora da revolta em Praga (1968) e do fim da União Soviética em 1989.