Resenha

25 anos de Image Comics: Glory

servido por: Vitor Leobons

A Image Comics faz 25 anos em 2017!

25 anos atrás, sete dos maiores desenhistas da Marvel abandonaram a Casa das Ideias para fundar a própria editora.

Foi um estouro! Uma melhor qualidade gráfica, uso do computador na pintura das revistas, autores mantendo os direitos sobre as próprias criações. Vendeu pra cacete! O grande lance é que, salvo raras exceções, boa parte do material lançado pela Image, nos primeiros anos, era muito ruim.

Imagem era tudo!

Com o tempo, se descobriu que os números milionários de vendas das revistas eram, na verdade, fruto de uma especulação que acabou lançando o mercado num redemoinho de capas variantes, sagas interligadas, a quase falência da Marvel e, sendo bem exagerado, o fato de não termos os X-Men e o Quarteto Fantástico reunidos com o restante dos personagens Marvel no cinema…

Esse foi um resumo bem tosco e divagador sobre o início da Image.

Mas, com o tempo, ela foi se reinventando. Alguns fundadores brigaram, uns saíram (para depois voltar), outros venderam personagens… mas a Image foi sobrevivendo. Roteiristas de renome começaram a trabalhar para a editora. As séries foram ficando cada vez mais diversificadas, saindo do nicho super-herói. A ironia e a crítica política foram ganhando cada vez mais espaço.

Enfim… temos 2017 inteiro para relembrar a história e o legado de uma das editoras mais polêmicas e importantes do mercado americano. E vamos ter uma porrada de resenhas por aqui, tentando montar um painel do que foi/é a Image Comics!

Para começar, desencavei uma das séries publicadas sobre a “responsabilidade” de Rob Liefeld. Impossível um leitor de quadrinhos não saber quem é o Robert Liefeld. Foi um dos cabeças da Image e responsável pelo primeiro quadrinho publicado sobre o selo da editora.

Ele lotou as lojas com revistas de gosto duvidoso, estreladas por personagens que invejosos dizem que são plágios. Mas que também podem ser entendidos como reinvenções, citações, arquétipos e versões pós-modernas de protagonistas consagrados e icônicos…

Enfim…

Na pilha de material que ele publicou, tivemos Glory! A reinvenção de uma certa amazona da Distinta Concorrente…

“Reinvenção”…

Aspas…

Jo Duffy e Mike Deodato Jr. foram escalados para dar vida à heroína na primeira revista solo. Vamos por partes…

É interessante pensar que, em 1995, umA escritorA foi escalada para dar vida a uma personagem – mulher. Algo que, até hoje, os editores das revistas da Diana ainda não entenderam… mas os pontos positivos acabam por aí.

Duffy escreveu Conan, Wolverine, Guerra nas Estrelas, substituiu Chris Claremont na revista do Punho de Ferro. E pode ser ainda mais lembrada – pelo leitor brasileiro – pelas aventuras da Mulher-Gato, lançadas pela Abril Jovem, durante a fase da Queda do Morcego.

Duffy se vira como pode com o material que tem. Arranha temas interessantes e que estão sendo muito discutidos atualmente, como o empoderamento feminino, machismo, a exploração da figura da mulher. Só que tudo fica meio perdido dentro de uma trama confusa e desenvolvida às pressas. Às vezes, parece que perdemos alguma edição, ou que algumas páginas foram cortadas. Os personagens, que já não tem muita personalidade, acabam sendo mal desenvolvidos e explorados…

Algumas cenas são bacanas! Como o momento onde toda a cidade é tomada por um vírus do amor. Mas é tão mal explorado, que não causa metade do impacto que deveria. Talvez com alguns números a mais, a trama pudesse ter corrido de forma mais natural e não tivesse sucumbido a ganchos fracos ao final de cada edição e a necessidade de splash pages a todo momento.

Bom… vamos à arte do grande Mike Deodato.

É bacana ver como o artista evoluiu e aproveito para fazer uma analogia de como o próprio mercado e a narrativa dos quadrinhos evoluíram e mudaram nesses 20 e poucos anos, que separam a publicação desse material dos dias de hoje.

Assim como Duffy, Deodato se vira como pode com o material que tem em mãos e a linha editorial que tinha que seguir. Mais Jim Lee do que nunca, ele tenta repetir o sucesso que teve em Wonder Woman Vol. 2, mas acaba sendo atrapalhado pelo padrão Image – de lotar as edições de pin-ups a todo momento – e pela trama confusa e corrida. E não posso deixar de comentar o fato de que sempre mostrar a personagem com trajes minúsculos, e em posições tão sensuais, acaba conflitando o discurso feminista que tenta brotar em alguns pontos do roteiro…

E o trabalho de cor é péssimo! O mundo de degradês, a noção louca de luz, a paleta usada… enfim, podia até impressionar na época, mas envelheceu mal pra caralho e só atrapalha ainda mais o resultado final do trabalho do Deodato.

Foram quatro edições publicadas pela Abril, semanalmente, em dezembro de 1996. As edições têm alguns problemas de impressão. Alguns balões saíram com falha em relação aos diálogos, enfim… algo que, hoje, grita na nossa cara ao reler, mas que – na época – era quase que padrão acontecer.

Enfim…

É um material com alguns conceitos interessantes… definitivamente! Com um pouco de sátira aqui e ali, um pouco mais de ironia e deboche, poderia ser um quadrinho muito bacana.

Mas é mal desenvolvido pra cacete! E facilmente esquecível… como boa parte da Image nos primeiros anos. E como praticamente tudo que saiu pelo estúdio do Liefeld naquela época.