Opinião

A polícia americana está fazendo tudo errado

servido por: Felipe Batista

Os Estados Unidos da América são marcados por uma questão do passado, que assombra o país até hoje: o preconceito contra afro-americanos. As últimas semanas ficaram marcadas por injustiças e um monte de coisa errada.

A revolta começou em agosto deste ano, na cidade de Ferguson, no Missouri, quando o policial branco Darren Wilson matou o jovem negro Michael Brown, de 18 anos. Desarmado e com as mãos para o alto. Até então, apesar do sofrimento dos pais e familiares, o alívio por justiça viria de um júri da cidade, que ouviria o policial Darren Wilson e decidiria quais seriam os crimes que ele cometeu para ir a julgamento. Mas o alívio não veio… e deu lugar à revolta.

No último dia 24 de novembro, o júri então decidiu por não indiciar o agente por nenhum crime, alegando falta de provas. Um caos então se instalou em Ferguson e em todo o país. Jovens, crianças, idosos – negros e brancos – foram às ruas de mais de 120 cidades.

Mais de 300 pessoas foram detidas nos protestos e o Dia de Ação de Graças – feriado mais importante no país – ficou marcado pela desgraça. E na tentativa de conter os manifestantes, os policiais agiram com violência e, mais uma vez, fizeram tudo errado.

Barack Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos, faria alguma coisa relevante pela classe. Era o que todo mundo pensava. Ele tinha que fazer. Mas não fez. Prestou solidariedade à família. Que não quer apoio, quer justiça.

A neve esfriou os ânimos dos manifestantes e afastou a população das ruas. Até que na última quarta-feira, um júri de Nova Iorque tomou uma decisão também envolvendo o caso de um policial branco que matou um homem negro, em julho deste ano, em Staten Island.

Desarmado, Eric Garner morreu sufocado com um golpe no pescoço – proibido há 20 anos pela polícia de Nova Iorque, que se defende alegando que o homem vendia cigarros ilegalmente.

O crime foi inteiro gravado por testemunhas. Garner, claramente, não resiste à prisão e, quando já não aguentava mais, sussurrou as últimas palavras antes de morrer: “eu não consigo respirar”. A gente também não.

O júri então decidiu que Daniel Pantaleo, o policial branco, não seria indiciado e, portanto, não deveria ir a julgamento por crime algum. A polícia está fazendo tudo errado… e os júris também. Garner deixou a esposa e seis filhos. Sufocados pela injustiça.

Sedenta por respostas, a população, mais uma vez, esperou alguma ação de Obama, que aplicou uma medida em que policiais deveriam usar microcâmeras acopladas ao corpo. E o Departamento de Justiça resolveu investigar o crime.

Mas a morte de Eric foi gravada, de perto, de diversos ângulos, e não serviu de prova mesmo assim. O presidente também está fazendo tudo errado. Todos os países estão evoluindo e os Estados Unidos parecem estar regredindo. O que está acontecendo?

Indignados, é claro, a população negra foi às ruas de Nova Iorque pedir justiça mais uma vez. A polícia reprimiu, violentou e prendeu 200 manifestantes no segundo dia de protestos. Em cartazes, os jovens diziam: “a vida de um negro também tem valor”.

Foi então que, em Phoenix, no Arizona, a polícia fez tudo errado novamente. Em meio a protestos na madrugada de hoje, outro policial branco baleou outro homem negro, também desarmado, que, segundo a polícia, apresentava ameaça ao colocar a mão no bolso para pegar o que parecia ser uma arma. Não era. E Rumain Brisbon foi morto deixando quatro filhos.

Quantos mais vão ter que morrer? Não se trata somente de uma questão racial brancos x negros. Se trata de vidas. De famílias desoladas pela perda injusta por assassinos fardados. Não é só mais um negro morto. É mais um homem morto cruelmente. A vida deles vale tanto quanto a de qualquer outro.