Liberdade PAItrocinada
Quem nunca pensou em “largar tudo” e viajar mundão afora? Recentemente, dois textos foram compartilhados de forma efusiva nas redes sociais. “A geração que encontrou o sucesso no pedido de demissão“, de Ruth Manus, e o segundo, que contrapõe esse anterior, é “A juventude que não pode largar tudo para viajar o mundo ou vender brigadeiro“, de Yasmin Gomes.
Do meu ponto de vista, nenhum está certo ou errado. Lindas histórias de fulanos que “largaram tudo e caíram no mundo” invadem as telas de computadores e celulares. Você lê, se empolga, se entusiasma, vibra. A única coisa que passa na sua cabeça é “quando?”. Você quer saber em que ocasião vai conseguir fazer algo assim, se livrar das amarras e – finalmente – “ser livre”.
Mas o que é “largar tudo”? E quem não tem o que largar? O que é “começar do zero”? O zero de todo mundo é igual? Meu amigo, o zero nunca é zero.
Quando o zero é muito
“Tive que vender meu carro, meu videogame e meus tênis de marca, mas deu certo!”
“Nossa, com 23 anos, você já tinha isso tudo?”
“O carro, ganhei do meu pai quando fiz 18. As outras coisas, fui ganhando em aniversário, natal…”
“NOSSA, VOCÊ REALMENTE COMEÇOU DO ZERO! SÓ QUE NÃO.”
Quando o zero não é zero
Temos o outro lado também. Há, sim, pessoas que não possuem bens que ganharam dos pais, mas também não começam do zero…
“Eu não tenho carro… nem roupas de marca, por isso consigo juntar dinheiro.”
Não. Você consegue guardar dinheiro porque não paga a comida, a água, a energia e o papel higiênico que usa. Desculpa, mas é verdade.
É MUITO difícil viajar o mundo sem PAItrocínio. Conheço pessoas que não são ricas (nem possuem os pais ricos), mas – mesmo assim – viajam para todos os lados. Estão certíssimos! Morro de vontade de fazer a mesma coisa. Só que eles têm onde comer, dormir e tomar banho… e não pagam nada por isso. Guardar dinheiro não é tão complicado quanto parece, quando você tem todos esses benefícios ao seu dispor.
Quando zero é negativo
Então vamos ao terceiro caso: quando o zero é negativo. Se eu resolvesse “largar tudo”, teria que pagar a multa do contrato de aluguel, das assinaturas de internet e/ou revistas, fazer todo o trâmite para tirar as contas de energia, água, etc. do meu nome. Nem tenho tempo para fazer o planejamento de uma grande viagem. Se tivesse que tirar alguns meses para planejar, BUM! Mais alguns meses pagando aluguel (que não é barato!).
Sem contar na grande quantidade de pessoas que abdicam de boa parte do salário para ajudar os pais.
Não estou falando que X ou Y está errado, ou que fulano merece mais que sicrano… só queria que o pessoal entendesse que quase nunca é “JOÃO VIAJOU O MUNDO TODO SEM GASTAR NADA!”.
É possível?
Eu acredito que sim. Eu espero que sim. Eu quero que sim.
A verdade é que esse parece ser o maior anseio da nossa geração. Hoje, há vários aplicativos e comunidades online para facilitar o desapego e o “cair no mundão”. E quem fez esses apps? Começaram do zero? Acho que tiveram um PAItrocínio também, o que é bom! Muito bom!
Eu mesmo tive uma grande ajuda dos meus pais. Tinha bolsa integral na universidade, mas quem pagava minha estadia e minha alimentação eram eles. Todos nós precisamos de um empurrãozinho e isso não é ruim ou vergonha alguma.
Eu nunca seria quem eu sou, ou jamais teria as oportunidades que tive, sem o apoio de várias pessoas. Em nenhuma circunstância, teríamos apps tão facilitadores, sem a ajuda de alguns pais e empresas que acreditaram no potencial de algo.
Acho que tudo se torna possível quando você começa a perseguir seus sonhos. O difícil é saber qual. Eu… ainda não sei.