Promessas de ano novo

Quem lacra não lucra?

servido por: Vitor Leobons

“Quem lacra não lucra”… li essa frase recentemente em uma discussão sobre o fato da Marvel Comics ter sofrido uma queda absurda nas suas vendas. E, confesso, ela me fez pensar… pensar sobre 2017 e sobre 2018…

2017 foi um ano marcado pelo extremismo. A marcha nazista nos Estados Unidos e a ascensão de figuras deploráveis como Jair Bolsonaro são alguns exemplos. Os cidadãos de bem fechando uma exposição é mais um triste exemplo…

Ok! Extremismos e preconceitos que sempre existiram, isso não se discute, mas o fato é que eles vem cada vez mais saindo da caverna onde se escondiam e encontrando voz…

Em 2017, o mercado de quadrinhos sentiu o baque de uma retração que vem de anos e infelizmente os leitores resolveram culpar essa queda nas vendas por decisões como as que citei nesse texto e gerando situações inacreditáveis como aquela polêmica do milk-shake.

Enfim…

E, infelizmente, 2018 começou no mesmo ritmo. Vamos lá… Culpar um movimento de inclusão e representatividade por uma crise de vendas e traçar um comentário leviano, cruel e estúpido. Feito por quem não conhece, ou não tem o menor interesse em conhecer, um pouco sobre a história e o mercado…

Desde o final dos anos 80 que o mercado americano de quadrinhos trabalha com o sistema de vendas diretas. Um castelo de cartas que quase acabou com a indústria lá nos anos 90, depois que a bolha especulativa estourou. Para fins estatísticos, vamos a números! Em 1991, o número 1 de X-Men Vol. 2 desenhada pelo Jim Lee vendeu mais de 8.000.000 de cópias. No mesmo ano, X-Force 1 do Rob Liefield bateu 1.000.000 de cópias. No ano anterior, Spiderman 1 de Todd McFarlene chegou a 3.000.000 de cópias vendidas. Já em 2001, a primeira edição da continuação de Cavaleiro das Trevas do Frank Miller vendeu 174.000 cópias. Em 2002, o primeiro capítulo de Hush, desenhado pelo Lee e considerado uns dos maiores sucessos da DC naquele ano, chegou a 140.000 cópias. Em 2006, a primeira edição de Guerra Civil vendeu 260.000 cópias e se tornou o segundo maior best-seller do mercado americano desde que o ICV2 começou a monitorar o mercado em 2001… E se pulamos mais 5 anos, em janeiro de 2011 foi Fantástic Four 587, com a morte do Tocha, que vendeu 115.000 cópias. Ou seja, em 20 anos, o sucesso de vendas saiu da escala dos milhões, para a casa de 100.000, 200.000 cópias. E em uma época em que um termo como “lacração” nem sonhava em fazer parte de uma discussão recorrente sobre quadrinhos.

Nesses 80 anos de existência, o mercado de quadrinhos sempre teve seus ciclos de sucesso, seguido por momentos de crise. É a realidade do mercado.

Eu acho que deu para entender que o problema nunca foi a diversidade, né? Mas a falta de renovação do público, um sistema de vendas frágil e instável e sem contar roteiros e artes ruins, a confusão cronológica, os crossovers intermináveis e os constantes e desnecessários reboots…

Enfim…

Comecei esse texto pensando em fazer uma promessa de ano novo: não dar ibope aos idiotas. Mas ao longo do texto mudei de ideia e a promessa se transformou em não deixar os idiotas ter voz, mesmo que tenha que repetir mil vezes a mesma coisa.

E que venha 2018…

Cheers!