Quadrinhos

A culpa é do Morrison

servido por: Vitor Leobons
1 / 8
2 / 8
3 / 8
4 / 8
5 / 8
6 / 8
7 / 8
8 / 8

Recentemente, o Renascimento da DC completou um ano em terras brasileiras. Entre críticas e elogios, não consegui deixar passar as aventuras do Superman, pela dupla Tomasi/Gleason, e a reinvenção da Diana, por Greg Rucka. Acabei escolhendo ficar longe de alguns personagens. O Cavaleiro das Trevas foi um deles. Tom King assumiu os roteiros do Batman nessa nova fase. Tenho lido muitos comentários positivos sobre o trabalho dele…

O que tem me feito pensar sobre esse personagem…

Notar o protagonismo que vem ganhando nos últimos anos, se tornando uma das marcas mais fortes da cultura pop. E um carro-chefe na Editora das Lendas.

Um movimento que veio ganhando muita força de uns anos para cá… enquanto eu fui me afastando do Homem-Morcego. Só para esclarecer: não sou hipster que abandonou esse personagem porque o número de fãs se tornou infinitamente maior. Mas desisti pelo fato dele ter se tornado um mestre invencível chato, além de rei do preparo. OK?

Enfim…

Lembro-me de, anos atrás, ouvir argumentos dizendo que Batman era um personagem crível, humano e, em função disso, mais fácil para se relacionar… do que um Superman, por exemplo.

E talvez fosse um argumento válido. Lembro de várias histórias do Morcego que mostravam esse lado mais humano, e falho, desse personagem.

A interpretação, dada por Frank Miller, na inesquecível Batman: Ano Um, é certeira nesse ponto. Mostrando um personagem que treinou a vida toda, mas – ao mesmo tempo – ainda é surpreendido e comete erros.

Uma das minhas fases favoritas do personagem é a breve passagem de Alan Davis nos desenhos da revista Detective Comics. Com os (sempre acurados) roteiros de Mike W. Barr, estavam ali todas as qualidades que fizeram – do Homem-Morcego – algo único: grande atleta, detetive incrível, ótimo lutador, mas, ainda assim, humano e sujeito a falhas.

E as aventuras produzidas pela dupla Alan Grant/Norm Breyfogle? Uma fase marcante que explorou – de forma ainda mais empolgante – as melhores características do personagem!

Algo muito distante do matador de deuses que ele é hoje! Longe do cara que derrotaria nossa Liga da Justiça sozinho… o Darkseid… a morte!

E pensando sobre… sabe quem é o grande responsável por transformar nosso Homem-Morcego em uma piada de Chuck Norris?

Grant Morrison!

Em 1996, a DC jogou – para o escocês – essa responsabilidade de revitalizar uma desgastada Liga da Justiça. A abordagem foi matadora: remontar a equipe com os sete supremos no elenco! Batendo de frente com vilões realmente ameaçadores e grandiosos.

Superman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash, Aquaman, Ajax (como ainda era conhecido nosso Caçador de Marte) integravam a equipe junto com o Homem-Morcego… único sem superpoderes do grupo.

Para compensar, Morrison levou o personagem a outro nível de “enfodecimento”…

Na falta de um termo melhor, eu improviso!

Enfim…

Só o primeiro arco já é um ótimo exemplo. Na primeira reunião dos personagens, Batman estava escondido numa tal forma, que Superman não foi capaz nem de escutar os batimentos cardíacos. Mais adiante, quando todos tinham sido derrotados pelos vilões, ele reaparece e, com toda a capacidade de dedução que tem, descobre o plano inteiro para virar esse jogo…

A escrita do Morrison é empolgante, mas deixa evidente essa abordagem exagerada que ele pretende dar ao personagem.

Algo que só acabou sendo extrapolado ao longo do tempo, com o arco Torre de Babel, escrito por Mark Waid – que substituiu Grant Morrison nos roteiros da Liga –, servindo como ápice desse movimento. A premissa da história: facilmente, Ra’s al Ghul derrota o grupo, usando planos secretos que Bruce Wayne tinha elaborado, caso fosse preciso conter os colegas de equipe.

O desenho animado (Liga da Justiça), que teve clara influência nessa fase do Morrison, também seguiu pelo mesmo caminho, transformado esse personagem em alguém pronto para tudo.

Jeph Loeb, com a revista Batman/Superman, extrapolou ainda mais essa visão de Grant Morrison para o Morcego. Entre outras situações, colocou esse personagem vencendo o soberano de Apokolips…

Após o sucesso na Liga da Justiça, Morrison foi para a Marvel. Anos depois, voltou para escrever a principal revista do Morcego. Essa nova abordagem ao personagem foi sutilmente diferente, mas a passagem anterior já tinha deixado marcas. Dar um filho a Bruce Wayne foi uma virada interessante. Mas fazer o Batman sobreviver a raios ômega e uma viagem no tempo: insistência num caminho chato, desgastado…

Numa metalinguagem recheada de ironia, esse escocês transformou o manto do Morcego em uma marca que atua no planeta todo.

E então vieram Os Novos 52…

E Scott Snyder passou a escrever o personagem…

Entre 2011 e 2016, reafirmou o lado invencível, indestrutível e rei da porra toda do personagem… dando tons ainda mais exagerados ao que Grant Morrison começou…

Enfim…

O que me traz de volta ao que disse no começo desse texto.

Talvez – com King chegando e uma virada na vida do Bruce Wayne com o pedido de casamento para a Mulher-Gato – fosse um bom momento para voltar ao personagem. Mas Noite de Trevas: Metal vai ser publicada, por aqui, no mesmo momento em que voltei a ficar curioso com o Homem-Morcego. A nova grande saga da DC – escrita por Scott Snyder – mostra um novo multiverso onde versões malignas do Homem-Morcego tomaram os poderes dos outros integrantes e blá-blá-blá… deixando claro que ainda não é para mim… enfim…