Tire férias logo. Se for possível, amanhã…
Fiquei quatro anos sem férias. Emendei um trabalho no outro, uma missão após a outra, um plantão seguido do outro. Ganhei uma folga, perdi 20. E, em quatro anos sem férias, às vezes, sinto que perdi duzentas. Aliás, perdi muita coisa nesses quatro anos. Perdi mais do que ganhei.
Perdi tempo. Ponto. Muito tempo. Mas, em troca, ganhei amigos. Alguns até se tornaram os melhores deles. Perdi outros também, é verdade. Mas ganhei, com o tempo que perdi, a consciência de quem precisava estar do meu lado. E de quem não precisava.
Ganhei uma namorada, que me fez feliz por esses exatos quatro anos. E que deixei a vida levá-la para longe, porque entendi que há tempo, e vida, para tudo. Para se perder e para se ganhar.
Perdi a paciência. As estribeiras. O limite. A razão. E ganhei experiência. Maturidade. Vontades. Desejos. Anseios… ganhei dinheiro. Mais do que imaginaria, menos do que merecia. E gastei muito dinheiro também. Fazendo planos, viajando, bebendo, comendo, apostando.
Ganhei um diploma, perdi noites em claro. Ganhei inspirações, perdi sonhos. Ganhei um emprego. Perdi outro. Esses últimos quatro anos foram um verdadeiro perde e ganha. Um jogo de tabuleiro, no qual parecia que só eu ganhava, só eu perdia.
Perdi meus irmãos para a Europa. Mas ganhei um sentimento único, que não tem nome: a de ver a felicidade deles e me sentir o cara mais feliz do mundo por isso. Acho que se chama amor.
Briguei com meus chefes, com meus colegas de trabalho, com meus pais, meus amigos e meus irmãos. Perdi discussões políticas, ganhei outras. Ganhei dor de cabeça. Perdi a saúde. Tenho a impressão que colaram esses quatro anos, um no outro. Estou no ano de 2012-2013-2014-2015. Deram Ctrl C + Ctrl V e não me avisaram!
Nesse tempo, descobri que sou um cara chato. Que fiquei chato. Mais do que os outros imaginam, menos do que eu gostaria. E ganhei a descoberta que só eu posso mudar quem sou. Perdi o sorriso inocente, a risada 24 horas por dia, porque entendi que a vida não é assim.
O Felipe de 2015, definitivamente, não é o Felipe de 2012. E que, certamente, não será o Felipe de 2019. Achei que era perseguição e perdi a razão. Mas entendi que é assim mesmo, que O TEMPO PASSA e a gente MUDA. A gente PERDE aqui, mas a gente GANHA ali. Não se pode ter tudo.
Mas se pode ter férias, por exemplo. Esse tempo para você, para sua cabeça. É preciso tirar esse mês do seu calendário. Seu ano precisa, e deve, ter 11 meses. Esse outro, você tira férias e faz o que quiser.
Pode até parecer exagero, mas é que as férias, lá em casa, sempre foram tratadas como um divisor de águas. E eu, no estado de náufrago – em meio a esses quatro anos -, preciso delas mais do que nunca. Portanto, tire férias. E, se possível, tire hoje mesmo. Ou amanhã, ou depois. Mas não deixe para o mês que vem, ano que vem…
Tire esse tempo para você, para entender que todas essas coisas acontecem e que, no ano que vem, vai perder e ganhar tudo de novo. A vida, afinal, é um eterno perde e ganha. E eu acabei de ganhar minhas férias. Fui feliz em 2012-2013-2014-2015. Mas serei mais ainda em 2016. E, depois, em 2017, 2018…
Agora, tudo em seu tempo. Tudo separado. Tudo com vírgula. Tudo na sua hora. Seja ganhando… ou perdendo.