E o que eu sei sobre ser mulher?
Em primeiro lugar, eu sou um ser humano. Mais precisamente, uma mulher.
Quando o mundo está em paz, eu luto por ela. Quando o mundo está em guerra, eu luto contra ela.
Minha luta começa quando saio do ventre de minha mãe. O mesmo útero que pare os bastardos de amor, aqueles de pequeninos pintos e de orgulhos miseráveis, também me traz ao mundo.
Mesmo quando sou apenas uma garotinha, meu coração já está abundante de amor e ternura por tudo que se move e brilha. Desde os animais cheios de pelos e com caras engraçadas, até as bolhas de sabão que se formam com o sopro do vento. Isso tudo me encanta. Eu gosto do que é simples. Gosto daquilo que é notável.
Até mesmo os garotos, eu observo com carinho. Curiosidade.
Todos aqueles movimentos desajeitados, cabelos enredados e sujos, todos os maus hábitos e grosserias. Acho graça.
– Você é só uma menina! – eles dizem.
Eu sorrio com os olhos felizes e os lábios confusos… e penso: – eu sei -.
Como quem acabou de ouvir o mais óbvio dos fatos.
(…)
Foi daí que eu parei de escrever o texto.
Afinal, eu sou apenas um homem muito favorecido pela sociedade desde que nasci e, por isso, eu não entendo porra nenhuma do que é ser uma mulher.
Nunca vou saber o que essa menina, citada na história, realmente sente, quando ouve essas coisas. Quando as pessoas impõem – a ela – como se portar “como uma mocinha”.
Tive a felicidade de pedir opiniões, sobre o que não escrever no Dia Internacional da Mulher, para amigas e amigos. E fui alertado de algo simples e importante:
“Então, a questão é que o buraco é mais embaixo. Não é ao nascer que a mulher luta; ao nascer, começa a opressão. Mas, não, uma luta consciente… e, sim, uma educação que foi socialmente naturalizada. Mesmo porque: não se nasce mulher, torna-se mulher. As diferenças políticas e sociais (não digo, aqui, das biológicas) entre homens e mulheres estão em construção.” Natália Quadros
Ficou claro que escrever por uma mulher não faria sentido algum. No caso, reforçaria a ideia de machismo, onde o homem se sente no direito de falar sobre como é ser mulher para mulheres.
“Tenta abordar diferente, você não pode falar por uma mulher, a não ser que esteja se colocando no lugar dela.” Erick Heras
“Entendo a intenção de escrever em nome de uma mulher, mas será difícil… é melhor dar um olhar sincero e generoso, no lugar de homem mesmo.” Natália Quadros
Aí coloquei um título afirmando que as mulheres não precisam desse dia… a quem pertence essa afirmação?
“Para mim, este dia nos coloca em uma caixa de estereótipos. Eles vêm e me dão flores que eu não preciso naquele momento. Eu estou mais interessada em um salário igualitário, reconhecimento no trabalho e na sociedade. Eu gosto de flores, mas existem outros dias para me darem presentes como esses.” Julita Rękawek
“Não deveria precisar, mas – diante das condições históricas que criamos – é importante, sim, um dia que simbolize essa luta. Assim como o Dia da Consciência Negra, por exemplo… ou como as cotas. Não acho legal termos chegado num ponto em que o sistema educacional está tão falido que só assim é possível de se começar a reverter a quantidade de alguns negros e de baixa renda nas universidades. Mas sem isso, o próprio discurso capitalista da meritocracia cai por terra, porque as chances, condições e oportunidades não são as mesmas.” Natália Quadros
O fato é que eu não posso – simplesmente – chegar e dizer o que eu acho do Dia Internacional da Mulher (a partir do momento em que eu me importo com o real significado disso para elas).
É preciso ir mais além. É necessário questionar minha parte nisso tudo. O papel do homem em uma luta que está, cada dia, mais importante. Já que vitórias e derrotas estão acontecendo, existem batalhas acontecendo… e eu preciso saber de qual lado eu devo estar. Não existe meio-termo. Quem cala, consente.
Nós, homens, precisamos tentar sair da nossa zona de conforto e procurar abrir os olhos para as mudanças em curso. Em respeito àquelas que nos deram a vida. Que nos compreenderam quando fomos idiotas, egoístas e infantis. Nós devemos isso a elas.
No meu caso, eu devo desculpas a todas as mulheres. Não só pelo texto mal pensado, mas por todas as vezes em que, sabendo disso ou não, me aproveitei dos meus benefícios – impostos e machistas – e levei vantagem sobre elas.
Conheci mulheres maravilhosas durante a minha vida. A maioria, mais forte, mais honesta e mais disposta do que eu jamais pude ser.
Eu, provavelmente, não saberia como suportar tudo o que elas passam todos os dias.
Minha intenção nem é escrever textão.
Eu apenas quero dizer: reconheço… que sempre fui favorecido, que me aproveitei de situações e que preciso aprender muito, infinitamente, com vocês, mulheres.
Eu peço perdão… e vou fazer o possível para escrever um texto à altura de vocês no ano que vem.
Feliz Dia Internacional da Mulher.