Cotidiano

Drink

servido por: Kauan Lima

Ele acorda.

Abre um olho, “dá uma geral no quarto” – sem mexer a cabeça. Só move um globo ocular… uma mania chata e inútil. Toda manhã é a mesma visão. Os mesmos tons em escala de cinza. O mesmo espaço vazio ao lado.

Levanta, mesmo sem querer. Sai tropeçando e chega à cozinha. Abre a geladeira e a luz causa incômodo aos olhos. Passa os dedos, tateando a caixa de pizza velha, a latinha de refrigerante aberta há três dias, a lata de cerveja, o resto de uísque (que não sabe como foi parar lá), a garrafa de vodca. Desiste e liga a TV.

“Veja a seguir: qual será o novo método de emagrecimento adotado pelas estrelas; e quais serão as novas cores usadas na próxima estação.”

Quer voltar para a cama. Nem desliga o aparelho na sala e sai cambaleando, de olhos entreabertos.

Aí se joga nos travesseiros e os dedos vasculham o espaço desocupado na cama. Acha o celular. Leva ao rosto e vasculha redes sociais. Vê donos da verdade, vê cortes do governo na educação, vê leite a quatro reais, vê políticas assistencialistas sumirem. Tudo isso, ao som baixo da TV – que vem da sala -, falando sobre as belezas dos Estados Unidos e que, com o dólar em queda, é “facinho” ir se divertir na Disney.

Volta à geladeira. Novamente recusa a cerveja, uísque e vodca. Resolve tomar algo mais perigoso, mais forte. Decide tomar partido.