Cinema

Creed III | Crítica

servido por: Caio Sandin

Defensora do cinturão, atual campeã invicta e eterna queridinha do público, a franquia Creed continua imbatível, com um card mostrando 3 vitórias por nocaute e nenhuma derrota. Sabendo evoluir e mostrar novas faces a cada novo capítulo, a sequência agora mostra que é capaz de deixar o material, em que se baseou, no passado e dá passos importantes adiante com as próprias pernas e com um diretor que, apesar de pouca experiência, já tem um estilo e assinatura próprios.

A desconfiança era bem grande quando foi anunciado que Sylvester Stallone não estaria em Creed III. Após entregar algumas das melhores performances da vida nos dois primeiros longas, o eterno Rocky deixaria de lado o pupilo e nem mesmo apareceria para se despedir. Essa desconfiança somente aumentou quando a sinopse do terceiro filme da franquia mostrava que um amigo de infância voltaria da prisão para enfrentar o agora campeão aposentado Adonis nos ringues. Será que mais uma franquia seguiria os passos de Velozes e Furiosos, tentando trazer oponentes cada vez mais íntimos e escalando ainda mais a ameaça, sem necessariamente basear a construção em uma base sólida? Felizmente, esse não é o caso.

O agora diretor Michael B. Jordan consegue apresentar e implementar Damian, agregando ao passado conturbado do protagonista, e construindo a relação até chegar ao ponto em que o conflito se faz inevitável. Usando bloqueios psicológicos e problemas de se abrir já exibidos no passado, o roteiro nos dá ainda mais profundidade para o campeão que tanto amamos, sem deixar que o outro lado do ringue se torne apenas “o oponente da semana”.

Dando ainda mais peso a esta trama pessoal, entra o brilhante elenco de apoio, com Tessa Thompson, Phylicia Rashād e Mila Davis-Kent. Cada uma delas adiciona elementos únicos à trama, seja com conflitos, momentos para refletir ou quebrando o ritmo de conflitos constantes, todas demonstram um lado novo da própria personalidade e afloram nuances no lutador.

Poucas pessoas conseguem encher uma tela de cinema com um rosto e causar fascínio, angústia, alegria e toda sorte de sentimento na plateia. Esta é uma arte que apenas os grandes atores são capazes de fazer. E, incrivelmente, neste filme temos três exemplos disso. Michael B. Jordan, Jonathan Majors e Tessa Thompson têm um magnetismo que faz toda a audiência ficar com os olhos vidrados em seja lá o que estiverem fazendo em cena, levando todos à ponta da cadeira ou fazendo cada um se afundar na própria poltrona, dependendo dos riscos e derrotas, tensões e triunfos de cada personagem.

E o cineasta sabe se aproveitar muito bem desta qualidade do elenco e faz, dos closes e planos extremamente fechados, um dos pontos centrais da narrativa, principalmente durante as lutas. Alia-se a isso a paixão declarada de Jordan aos animes. Inspiração mais do que clara para muitas escolhas durante os combates, as influências das animações japonesas se juntam ao que já havia se estabelecido no universo, sob o comando de Ryan Coogler, e tornam este terceiro longa ainda mais único, apesar de ainda se apoiar em estruturas repetidas da franquia Rocky.

Longe de ser perfeito, o filme perde alguns rounds ao deixar algumas tramas de lado e apressar o terceiro ato, mas assim como estes não marcam a carreira de um boxeador, também não mancham o triunfo do longa.

Criando imagens marcantes e cenas memoráveis, Creed III sabe usar o elenco brilhante que tem para construir um filme em que os momentos em cima do ringue são tão marcantes quanto os fora dele, dando peso ao conflito dos dois oponentes, criando arcos separados para cada uma das relações, desenvolvendo e dando profundidade a cada um dos personagens. No capítulo em que perdeu Sylvester Stallone como mentor e aliado, Michael B. Jordan consegue sair das asas, tanto de Rocky quanto de Ryan Coogler, e entregar mais uma vitória marcante para um dos personagens mais emblemáticos dele. Um verdadeiro nocaute.

O único problema é que, se precisar lutar em mais um longa, só não se sabe mais como ele conseguirá fazer o corpo crescer e ficar ainda mais imponente, já que neste filme ele, tal qual Majors, está gigante.