Esse tal de Hélio

Vozes do além. Um artista morto. Um artista que fala, que nos confidencia, que nos amedronta com as constatações do fazer artístico. Da inventividade, da invenção e do inventor. Do gênio inquieto e que inquieta o nosso senso. A nossa paz. O grave da voz, os conceitos de vanguarda. Parangolés, Penetráveis e, claro, Cosmococas. Legados de um gênio. Legados de um homem da favela e do asfalto, de Nova Iorque e da Mangueira.
Hélio é Eisenstein, Glauber, Torquato, Neville, Caetano, Rogério, Warhol e Mutantes. Tudo junto. Tudo vivo. Alma em transe, terra que treme. Terra em Transe. Terra que sente os pés do artista em Tropicália (instalação e não música). Obra-prima. Obra-referência. Obra mãe dos tropicalistas. Obra que pariu os vanguardistas da terra de Gregório. Um chute, preciso e pensado, nos córneos dos neoclassicistas, renascentistas e barroquistas com, CLARO, rococós cansados. Doentes de medo.
Calados, selados e tolhidos! Vedados. Pobre arte paralítica.
Hélio desejou e defendeu um estado de invenção. Não uma criação artística linear, limítrofe e, por isso mesmo, medíocre.
“O novo para mim seria a emergência de um estado de invenção”, é o que ouvimos durante a explosão de imagens e sons de “Hélio Oiticica”, dirigido por Cesar Oiticica Filho, sobrinho dele. O cinema, de repente, ficou pequeno. O mundo era assim para esse tal de Hélio. Esse carioca que amou a Mangueira, Londres e Nova Iorque. Ah, o marginal iluminado! O solitário Hélio. O passista do SoHo. O primeiro pós-moderno do mundo.
“Toda cultura brasileira é underground”, a frase que ouvimos numa voz sombria e entorpecida pela cocaína, é a última flecha na garganta dos puristas.
Obrigado, seu Hélio.