Crônica

História de ciclofaixa

servido por: Bethânia Morico

O semáforo não ficou mais do que um minuto fechado. Tempo suficiente para conhecer dona Lurdes. A senhora de pele morena é baixa e magra. Enquanto ciclistas trafegam despreocupados pela Avenida Paulista, em São Paulo, ela fica de olho no abre-e-fecha do sinal. A placa de pare nas mãos de dona Lurdes garante que o domingo vai terminar bem para quem resolveu passar o dia por ali. Das sete da manhã às quatro da tarde, dona Lurdes fica sob o guarda-sol, parando e liberando bicicletas. A camiseta e o boné vermelhos fazem parte do uniforme. Ela vai ganhar, no fim do dia, cem reais. Bem mais do que conseguia passando roupa. O dinheiro faz diferença no orçamento da família. Basta ver como um leve sorriso se desenha no rosto da mulher, enquanto a cabeça aponta para o céu em agradecimento – as mãos continuam firmes na placa de pare. Quando o semáforo abre, dona Lurdes se despede. Deixamos um agrado para adoçar o resto do dia dessa trabalhadora e nos embrenhamos entre outras magrelas. A mulher, de roupa vermelha, vai ficando para trás, mas a feição de quem bendiz o dia trabalhado continua a nos acompanhar.