Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Primeiro, tivemos o céu. Depois, o purgatório.
O primeiro Homem-Aranha, de 2002, dirigido por Sam Raimi, foi um épico. O filme que abriu as portas para todas as adaptações de quadrinhos que viriam a dominar os cinemas desde então. Seguiu-se o ainda mais espetacular, e praticamente perfeito, Homem-Aranha 2 e o mundo estava nas mãos de Raimi e companhia. O céu era o limite. Foi então que a Sony resolveu se meter demais na concepção do terceiro longa e a casa caiu. Para piorar, resolveram fazer um reboot numa das franquias mais lucrativas da história cinematográfica, ainda no auge lucrativo (Homem-Aranha 3 é a maior bilheteria mundial da trilogia original), embora a recepção da crítica tenha sido bem menos calorosa.
Veio o reboot de 2012, momento em que a Marvel sedimentava o domínio dela nos filmes de HQ, com o histórico “Os Vingadores”. Pouca gente prestou atenção no reinício do Teioso, mas – mesmo assim – a fama do personagem era grande o suficiente para garantir uma boa bilheteria mundial. Dois anos depois, a continuação foi recebida com ainda menos entusiasmo e a Sony se deu conta de que havia queimado a joia da coroa (os filmes do Aranha são responsáveis pela maior arrecadação na história do estúdio Columbia Pictures). Enquanto isso, a Marvel seguia um caminho de sucesso, criando mais e mais filmes do gênero… seguida, aos solavancos, pela Warner Bros./DC Comics.
Depois de meses de especulações, o impossível aconteceu: a Sony fez um acordo com a Marvel Studios, para que esta produzisse o próximo reboot do Homem-Aranha nas telonas. Algo sem precedentes na história do cinema! Era a força da marca Marvel se fazendo valer.
E, finalmente, temos o resultado dessa parceira impensável, Homem-Aranha: De Volta ao Lar. Inteiramente produzido pela Marvel e bancado pela Sony. E o filme fez jus à tanta expectativa.
Sem perder tempo recontando a origem do Aranha (depois de dois reboots e uma introdução sensacional em Capitão América: Guerra Civil, não era realmente necessário), o filme já começa mostrando Peter Parker regressando à escola, depois dos acontecimentos em Berlim. E é aí que está o grande trunfo dessa nova aventura: mostrar um Homem-Aranha como ele foi criado, lá em 1962, um adolescente cheio de problemas comuns a todos os adolescentes, só que com superpoderes.
No colégio, conhecemos os amigos, inimigos e a paixão platônica de Peter. Tudo muito bem inserido e interpretado por adolescentes, sem parecer aqueles típicos “adultos fazendo papel de moleques”, como é comum no cinema americano. Aqui, a idade dos atores passa uma verossimilhança necessária e crucial para a história.
E, finalmente, temos um vilão outra vez! Desde o Doutor Octopus, em se tratando de filmes do Aranha! Michael Keaton arrebenta no papel de Abutre, uma completa “reimaginação” do personagem dos quadrinhos, muito mais ameaçadora e real.
Sem querer dar spoilers, numa conversa entre ele e o herói no carro, Keaton consegue ser mais ameaçador do que todos os últimos cinco vilões do Aranha nas telonas… juntos!
O filme tem um tom leve e divertido, reservando alguns momentos muito bons de tensão, inclusive homenageando uma história clássica do Aranha, que define perfeitamente toda a personalidade do herói.
Um dos pontos fracos da trama são as cenas de ação. Nada de muito destaque, acho que era a intenção dos produtores inclusive. O próprio diretor, Jon Watts, disse que o motivo dele querer fazer esse filme eram momentos como o do diálogo no carro. E, nisso, ele se sai muito bem. Mas não se pode fazer um longa de super-herói, ainda mais um do Homem-Aranha, sem pelo menos uma tomada memorável.
E o grande mérito do filme foi a escolha do ator. Tom Holland aceitou uma baita responsabilidade e segurou a bronca com dignidade. Ajudado por um roteiro inteligente na construção do personagem, Holland consegue passar a jovialidade, imaturidade e insegurança do Aranha, como ele era… em início de carreira. Sempre tentando fazer o bem, mas cometendo erros a cada passo do caminho e pagando por isso. Assim como muitos de nós.
O sucesso do filme mostra o incrível poder da Marvel na produção de filmes desse gênero que ajudou a definir.
Um grande poder, sem dúvida.
E com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.
8.5 / 10