Em 2000, a Marvel lançou a linha Ultimate. Inicialmente pensada como um reboot do Universo Marvel, o Ultiverso, assim ficou conhecido, acabou se transformando numa dimensão paralela.

Livre de anos de cronologia, o objetivo era captar novos leitores.

Mark Millar assumiu o segmento Ultimate dos mutantes e Brian Michael Bendis, no primeiro trabalho para a Marvel Comics, ficou responsável por títulos do Cabeça-de-Teia. E, em centenas de edições, Bendis reinventou a origem do Peter, atualizou o elenco de coadjuvantes e deu novo fôlego ao personagem, que passava por um período de histórias insossas na versão original.

Eu acompanhei o jovem Peter todo mês, durante anos, até a morte dele…

E, durante todo aquele período, foi um prazer seguir a reinterpretação do Aranha, em histórias empolgantes, engraçadas, despretensiosas e redondinhas. Tinha problemas aqui e ali, algumas escolhas criativas de gosto duvidoso, mas o conjunto da obra era tão divertido que as falhas ficavam em segundo plano.

E, cara…

De Volta ao Lar é a transcrição para o cinema do trabalho realizado naqueles quadrinhos!

Se o Ultimate não era o Peter do Stan Lee, o da Marvel Studios também não é. Mas, assim como os quadrinhos, o novo filme nos dá uma versão jovial e adequada a essa época!

Enfim… e a quem interessar possa: que filmão!

Divertido, leve, vai do humor ao suspense… tudo isso, construindo uma trama que não se perde, nunca exagera.

O filme já começa acariciando os fãs, ao colocar o tema clássico do personagem – orquestrado – logo no início.

E segue explorando (muito) bem o dilema de grandes poderes/grandes responsabilidades. É ótimo poder ver o personagem inserido em uma história bem contada, onde tudo está contra e com um alter ego que destrói a vida dele a todo momento.

Diferente de outros heróis, nas histórias do Aranha, o que importa é a identidade secreta… e, no novo filme, Peter Parker é muito bem desenvolvido. Além de muito bem defendido por Tom Holland.

Ciente da responsabilidade, o ator abraçou o papel com gosto: esbanja carisma e se sai muito bem… tanto no drama quanto no humor. Já que é impossível não comparar, Holland é o melhor Peter Parker/Homem-Aranha do cinema! Desculpem-me os fãs do Tobey, apenas trago verdades…

O elenco de apoio é bacana. Um dos maiores diferenciais do Homem-Aranha é a importância que os coadjuvantes têm nas histórias. E o filme não esquece disso. Em uma versão atualizada e multiétnica, mas que funciona muito bem. E, sim, até o Flash consegue ser mais convincente e melhor desenvolvido do que foi anteriormente no cinema… como disse, somente trago verdades.

O mais importante? É ver adolescentes interpretando papéis da mesma faixa etária… como isso faz diferença!

Michael Keaton arrebenta! Consegue ser assustador e convincente nas motivações. E constrói um dos melhores vilões do Universo Cinematográfico Marvel.

E o novato Jon Watts é ótimo… sem inovar, mas não faz feio e consegue alguns momentos brilhantes.

A sequência antes do baile é um primor de suspense!

A cena do resgate no elevador também é outro exemplo de como Watts sabe o que está fazendo…

Enfim…

Confesso que tentei me manter fora do hype. Talvez por isso tenha demorado tanto para assistir De Volta ao Lar.

Mas, com esse novo reboot, Kevin Feige e a Marvel Studios se confirmam como uma máquina de entretenimento! E é engraçado perceber como esse “aparato” vem gerando cada vez mais torcida contra…

Abriram um mundo de possibilidades com aquela cena pós-crédito no Homem de Ferro inicial. Mudaram todas as regras com o primeiro Os Vingadores.

Quem eram os Guardiões da Galáxia? Filme do Homem-Formiga?

E esse inédito acordo com a Sony Pictures, que trouxe o Amigo da Vizinhança de volta ao lar?

Enfim…

Outros estúdios vêm tentando reproduzir a fórmula do universo compartilhado, mas sem o mesmo sucesso. O Universal Studios, com o Dark Universe, deixou todo mundo indiferente frente a um Tom Cruise lutando contra a Múmia… e o projeto continua como uma grande incógnita.

A tentativa da Warner Bros. também… enfim, acho que não preciso me alongar muito, né?

Enquanto isso, a Marvel Studios continua seguindo a mesma fórmula, mantendo uma assinatura e, com a chegada do Aranha, só comprova como é um case de sucesso…