Death Note da Netflix: bosta ou nós que não entendemos?
Alguns pontos a destacar… só para começarmos:
1.
Como diz a mulher que eu amo: crie monstros e, não, expectativas;
2.
Vivemos num momento, da indústria cultural, onde adaptações são o “novo preto”: não pensando pelo lado da crise criativa, apostar num material, com uma base de consumidores já garantida, é um investimento seguro para os produtores… no entanto, uma vírgula deslocada e o ódio dos fãs coloca tudo a perder;
3.
A arte é propícia a muitas interpretações… e milhões de fatores podem influenciar as escolhas artísticas, ao adaptar uma mídia para outra;
4.
É afirmar o óbvio, mas… estamos passando por uma puta homenagem aos anos 80, um baita revival.
Pois bem… com tudo isso em mente, vamos falar sobre a adaptação de Death Note, produzida pela Netflix!
Sim, ninguém mais está comentando sobre esse filme, mas resolvi falar! Falta de pauta é uma merda… me julguem!
A chegada dessa adaptação do mangá à provedora global de filmes e séries de televisão via streaming foi polêmica, causando um ódio absurdo nos fãs e gerando até ameaças de morte… que fizeram o diretor encerrar a conta no Twitter.
Enfim…
Lembra do texto sobre os idiotas que nunca vão desistir? Abordei esse tema em outro post…
Mas… continuando!
Conferi o longa no fim de semana da estreia… e várias coisas me incomodaram! Os péssimos atores, a tentativa de humor em alguns pontos, a trilha sonora que não definia para onde ia. Mas gostei muito do final! E depois de assistir, fiquei curioso por conhecer o original, o que – para mim – é o resultado de uma adaptação minimamente competente. Não era a bomba completa que todos estavam gritando aos sete ventos, talvez passasse como medíocre e facilmente esquecível filme de terror.
Pois bem… dias depois, li um comentário sobre o longa, feito por Marcelo Campos. É cofundador da Quanta Academia de Artes e um antiartista (como é definido pelos amigos) que curto bastante. Ele fazia uma relação entre esse Death Note, da Netflix, e os filmes de terror adolescente dos anos 80…
Algo que me deixou com a pulga atrás da orelha.
E me fez assistir ao filme novamente.
Aí… a ficha caiu!
Adam Wingard utilizou o mangá, escrito por Tsugumi Ohba e ilustrado por Takeshi Obata, para criar mais do que uma adaptação, mas uma interessante peça de metalinguagem. Em vez dum filme de terror, ele nos entrega uma homenagem aos anos 80, pelo viés dos longas desse gênero!
E ao olhar dessa forma, várias escolhas criativas se justificam… principalmente aqueles créditos com cenas de making-of, que nos tira automaticamente do clima, para deixar claro que estamos em um longa sobre filmes…
John Carpenter, Wes Craven, John Landis e até Roger Corman… Wingard canibaliza todos eles e molda o filme de forma corajosa. Aceitando o modelo que decidiu homenagear, ele não tenta ser original, não tem a pretensão de ser genial e inclui o Death Note dele em uma área cinzenta, porém extremamente interessante: algo que talvez não funcione como adaptação, mas que – ao mesmo tempo – é uma obra de metalinguagem, pós-moderna e relevante.
(…)A “aura” modernista do artista como produtor é dispensada. “A ficção do sujeito criador cede lugar ao franco confisco, citação, retirada, acumulação e repetição de imagens já existentes”.
Esse trecho saiu do livro “Condição Pós-Moderna”, de David Harvey, e ajuda a ilustrar um pouco do que estou querendo passar… ou talvez eu esteja querendo dar um verniz adulto e complexo a algo relativamente simples, vai entender?!