Cinema

O Charlatão | Crítica

servido por: Caio Sandin

Bons personagens são, como creio que a maioria sabe, complexos. Tem nuances, são falhos e, mesmo assim, ainda capazes de boas ações ou atos altruístas. Para se demonstrar isso, no cinema, é necessário que essa construção venha nas poucas horas em que passamos juntos deles, independente da forma escolhida por quem dirige o longa.

O Charlatão, que chegou aos cinemas brasileiros nesta semana, faz com grande talento este tortuoso caminho para desvendar uma pessoa em duas horas. Jan Mikolášek é o protagonista e, pelo próprio título e uma cena de abertura impactante, já intriga a audiência e a faz refletir sobre como será a história à frente.

O fato de uma pessoa com conexões místicas e grande entendimento de ervas, utilizadas para cura, atrair milhares de interessados em busca de alívio para as enfermidades sempre levanta suspeitas — ainda mais depois de episódios recentes no Brasil. Mas, em poucos minutos, a trama envolve o espectador e desperta o interesse na história de um homem quieto e focado apenas no trabalho.

Os flashbacks, muito bem utilizados pela diretora Agnieszka Holland, trazem corpo a um personagem tão sublime e, de certo modo, justificam tal atitude para com o mundo, além de revelar motivações para ações que vemos no presente.

A fotografia auxilia, e muito, no interesse pela história. Paletas de cor extremamente acertadas, sabendo utilizar a luz de maneira muito inteligente, ao capturar planos com a beleza ou frieza necessária para transmitir sentimentos tão belos ou duros quanto os vividos pelos personagens.

Mas o comando de Holland é, inegavelmente, o que empurra todo o filme adiante. Os longos planos com diálogos muito bem entregues e o foco em mostrar todas as facetas do retratado, com a visão correta, são pontos-chaves para o sucesso da produção.

E esta mentoria é capaz de extrair, dos protagonistas Ivan Trojan (Jan) e Juraj Loj (Palko), atuações memoráveis e cenas impactantes e importantes para o entendimento de toda a trajetória do “charlatão” retratado.

Em uma reflexão de personagem, as surpresas do caminho, que lhe deixam boquiaberto enquanto se está mergulhado na história e fazem cada vez mais sentido conforme se analisa e reflete sobre o que foi construído, somente provam a qualidade e o valor encontrado em todos os quesitos do longa. E estas estão presentes nesse grande título.