Cinema

Red: Crescer é uma Fera | Crítica

servido por: Caio Sandin

A Pixar se tornou perita em contar histórias de evolução. Seja um jovem que precisa perceber o valor da família… ou alguém mais velho que deve aprender a valorizar as pequenas coisas e a vida como um todo. O estúdio californiano sabe muito bem como construir cada passo dessa jornada.

Eles são artesãos competentes na arte de moldar a relação entre o público e os personagens, usando o roteiro como plataforma para guiar essa trajetória, até que se atinja o final dessa trilha mudado, emocionado e, principalmente, evoluído em algum sentido.

Red: Crescer é uma Fera não foge deste caminho. E se a estética quase animê pode afugentar os mais apressados no julgamento, aqueles que ficam são premiados com um roteiro profundo, íntimo e transformador.

Não que isto faça o longa se tornar sisudo. Muito pelo contrário, o humor é constante, apurado e verdadeiramente importante para a trama, que faz um mergulho nos já longínquos anos 2000.

Nostálgico àqueles que viveram a época e uma descoberta de tempos menos tecnológicos aos mais novos, o período escolhido é fundamental para que a história possa se desenrolar, com escolhas simples, mas que, na mente jovem da protagonista, fazem todo o sentido do mundo.

Se nos primeiros 5 minutos de filme, somos apresentados ao mundo pelos olhos egocêntricos de uma pré-adolescente empolgada com a vida social, a verdadeira face do cotidiano de Mei nos mostra as pressões que recaem sobre os ombros da jovem, impostas tanto por aqueles que a cercam quanto pela própria.

A trama, neste ponto, parece reprimir o espectador, assim como vemos com a protagonista. Sabendo que há algo maior na esquina, apenas esperando o momento certo para ser libertado, mas incerto de quando (ou mesmo se) virá. E ele vem. E quando isso acontece… é uma fera.

O panda vermelho, aqui, se torna uma alusão às diversas questões de quase todos na adolescência. O desconforto com o próprio corpo, além das heranças que vem da família, a extrema atenção que se presta em cada detalhe de si mesmo, estando certo de que todos irão fazer o mesmo e julgá-lo exatamente por aquilo que o incomoda.

Mas é neste ponto que os especialistas da Pixar entram em cena. Para estender a mão e mostrar que, o que parece ser uma floresta de incertezas, escura e cerrada, tem uma trilha de alívio que todos, eventualmente, descobrem.

E a protagonista demonstra esta descoberta e, ainda melhor, exemplifica como este caminho pode ser encontrado das mais diversas formas, com os mais diversos tipos de relações.

E é dessa forma que o estúdio de animação mais reconhecido do mundo nos entrega mais um arco narrativo completo, com todos os passos para uma boa história, que se encerra com uma personagem diferente daquela apresentada no início do longa. Alguns podem não gostar ou até mesmo chamar de formulaico, como fizemos no Open Bar de Soul, mas quando a Pixar se empenha em contar um enredo cativante, poucos sabem como fazer melhor.