Cinema

Top Gun: Maverick pelos olhos de quem não cresceu fã

servido por: Caio Sandin

Ao contrário do meu colega Ronald Johnston, que escreveu essa crítica completa do filme, eu não cresci sendo um apaixonado por Top Gun. Sempre gostei dos longas do Tom Cruise, mas o Ases Indomáveis original sempre me pareceu aquele tipo de produção meio datada, ligeiramente chata de assistir hoje em dia. Em certo ponto, eu tinha razão. Os trailers e toda a divulgação de Maverick me deixaram intrigado e, para conferir o novo longa de 2022, me senti na obrigação de cumprir o dever de casa e vi o de 1986. As lutas confusas, a falta de um objetivo e os clichês da briga de egos incomodaram um pouco, mas a experiência foi divertida (principalmente pela ótima trilha sonora e pelo carisma dos personagens). Não saí fã, mas fiquei ainda mais interessado pela continuação.

No dia seguinte, fui ao cinema e o pobre filme original não teve a menor chance contra o segundo capítulo. Com uma trama mais robusta para sustentar e dar motivo para o treinamento dos melhores jovens cadetes dentro da elite, o longa se importa muito mais em mostrar do que em contar. Se antes tínhamos de nos contentar com situações de como Maverick era irresponsável, mas o melhor piloto que existia, nos sendo mostrado o pouco que as câmeras da década de 80 eram capazes de registrar, esta nova incursão nos leva para dentro dos jatos, ao lado do protagonista, para que ele possa fazer um verdadeiro show com as respectivas habilidades.

A forma como o roteiro retrata a estagnação do capitão, no mesmo posto por 40 anos, e a insubordinação caraterística, torna Maverick um personagem, ao mesmo tempo, coerente e profundo. Só dando ainda mais base para tudo o que se segue na projeção, desde as desobediências a superiores até a vontade de ensinar… e o medo de perder algum cadete. Principalmente Rooster, filho do amigo e ex-copiloto Goose, que morreu no título original.

Esta trama mais pessoal ajuda a dar um peso especial à missão final, que, não se deixe enganar pelas aulas e brincadeiras, está sempre no retrovisor, se aproximando. E Maverick sabe disso. Em cada ação de Cruise na tela, é possível ver essa urgência e até um certo tom de desespero por não sentir confiança, tanto em si mesmo para ensinar os jovens talentos, quanto nos pupilos, mas também na cadeia de comando, que parece pouco se importar com a vida dos pilotos, já que estes logo devem ser substituídos por drones.

Todas as ações são muito bem costuradas. Desde o primeiro plano, em que vemos o nosso homem-título pilotando um protótipo de uma nave ao limite… até o ato final, em que cada nova ação vai nos colocando ainda mais à beira da cadeira, ansiosos, aflitos e, quem diria, temendo pela vida de nossos heróis. Até a personagem de Jennifer Connelly, que é a mais rasa de toda a narrativa, acaba ganhando um grau de relevância, por conta das relações que protagoniza.

O único problema está fora da tela. A falta de qualquer citação ao nome da Charlie, interesse romântico do Maverick no primeiro filme, já que a atriz que a representou “envelheceu demais” em 40 anos — como toda pessoa normal — e, mesmo que veladamente, foi cortada da sequência por conta da aparência. Num longa que fala sobre passagem de tempo, aposentadoria por conta de uma tecnologia que pode substituir um trabalho e transição para uma nova geração, deixar de lado alguém por conta da fase da vida é um pouco irônico.

Como filme de ação, o trio Tom Cruise, Joseph Kosinski e Christopher McQuarrie demonstra que está na ponta dos cascos, deixando qualquer um, que goste (ou não) do gênero, ansioso pela próxima aventura. Que venha o próximo Missão: Impossível!