Cinema

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo | Crítica

servido por: Caio Sandin

Multiverso. Essa é uma das palavras que mais temos ouvido falar no segmento do cinema pipocão nesses últimos anos. Desde animações, como What If…? e Homem-Aranha no Aranhaverso, até séries, tal qual Loki, passando por um dos principais filmes do ano, o segundo longa do Doutor Estranho. Muitas são as incursões neste entroncamento de universos paralelos, que nos apresentam possibilidades diferentes de um mesmo personagem.

Mas poucos tratam o assunto com tamanho carinho e conseguem extrair dele uma narrativa tão interessante quanto Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Se para alguns, só explicar o conceito já é algo complexo, aqui o longa nos entrega a melhor explanação, junto a conceitos pouco abordados com profundidade, como a forma em que a consciência viaja através dos muitos universos e como é possível acessar os conhecimentos e vivências dos seus outros “eus” e trazer os benefícios para a sua realidade. É de tirar o chapéu, realmente.

O filme consegue, ainda, misturar tudo isso em um caldo com algumas das melhores cenas de ação dos últimos anos (incluindo lutas incríveis e memoráveis), comédia de primeira linha (que faz a audiência rir como há muito tempo não via) e uma trama envolvente, cativante e cheia de, por falta de uma definição melhor, coração.

Para falar sobre depressão e aceitação, em um mundo que ainda mistura o novo às tradições carregadas por décadas e gerações a fio, é necessário cuidado imenso e, principalmente, bastante esmero no roteiro, para que o público não se sinta enganado e muito menos se reduza a complexidade dessas condições. E, novamente, mais um golaço da produção dos Daniels. A forma como a relação entre as duas protagonistas é construída durante toda a projeção só nos faz criar ainda mais empatia e expectativa pelo final da narrativa, que segue em uma crescente para nos entregar um desfecho… perfeito. Todas as decisões para chegar até ali fazem sentido e, apesar de soar um pouco piegas, o diálogo derradeiro é de uma franqueza e de um coração — olha ele aí de novo — ímpares.

As cenas de ação, que estão no trailer, são realmente de cair o queixo, com coreografias magistrais e sacadas muito boas para misturar os conceitos apresentados de multiverso ao enredo, além de extrair o máximo da veia cômica dos roteiristas, com algumas das piadas mais infames e engraçadas de todo o filme. Esses pontos, certamente, seriam o ápice para alguns outros longas, e até a própria audiência, se contentarem, mas aqui, eles servem para avançar a trama familiar que, apesar de toda a loucura do multiverso, tem muito pé no chão, sendo possível se conectar com diversos casos que acompanhamos em nossas vidas.

Creio que a melhor comparação que consegui pensar é com um de meus filmes favoritos da vida: De Volta Para o Futuro. Se a jornada de Doc Brown e Marty McFly usa o conceito de viagem no tempo, com pinceladas de comédia e ação, para nos contar uma história de amizade, amores e família, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo nos transporta para um passeio pelo multiverso para atualizar este clássico citado e nos mostrar a importância da aceitação e até de como evitar os conflitos para podermos evoluir. Uma obra-prima do cinema moderno.