Cinema

1982 | Crítica

servido por: Ronald Johnston

Indicado para representar o Líbano na premiação do Oscar de 2020, o filme entrou em cartaz no Brasil somente neste mês de junho. O longa se passa em uma escola nos arredores de Beirute, onde crianças e adultos observam, ao longe, a invasão do país no ano em questão. Dirigido por Oualid Mouaness, o drama romântico nostálgico é estrelado por Nadine Labaki.

A partir daqui, tenho que deixar algo em evidência (padrão letreiro em Las Vegas)…

1982 é autobiográfico: o diretor viveu um momento idêntico e o cenário do filme é a escola onde estudou. O cineasta era uma criança e, entre uma prova e outra, pontuadas por um amor típico da idade, viu quando a Primeira Guerra do Líbano explodiu nas ruas da nação. Na época, as Forças de Defesa de Israel invadiram o sul do país com o objetivo de fazer cessar os ataques dos palestinos da Organização para a Libertação da Palestina. Os professores não tinham como conter a tensão, enquanto os alunos tentavam decifrar aquele sentimento de medo. E é justamente esse enredo que é contado na produção em cartaz.

Ou seja, mostra um embate real pelos olhos infantis. O conflito, no entanto, está sempre presente em cena – seja pelo intermitente som de explosões ou pelos caças que rasgam incessantemente o céu azul.

Mas foge do lugar comum, ou seja, das trincheiras onde filmes de guerra costumam ser ambientados, para observar de longe — e a partir de olhares ingênuos —, uma quebra da paz e da certeza rotineira que crianças costumam ter. Os adultos estão assustados, as aulas são interrompidas e ir embora da escola para casa se torna uma tarefa extraordinária. Com essa experiência infantil comandando a trama, ela não vai para o caminho estético mais óbvio. A guerra nunca é mostrada. Há veículos do exército passando pela escola, o rádio a pilha do professor gritando notícias sobre os avanços das tropas. Mas, aqui, o foco é o romance.

“Eles não poderiam esperar o fim das aulas para começar o ataque.”

É o que diz a secretária da escola, que tenta, sem muito sucesso, entrar em contato com os pais para que busquem os filhos. À margem dos conflitos geopolíticos e religiosos, inocentes se resignam ao papel de espectadores do mal que os atinge.

Pronto! Essa é a parte que merece destaque…

“Ih, lá vem o Ronald…”

Sim!! Porque a partir daqui, caro leitor, o filme tem problema!!

E, na minha humilde opinião, problemão…

Mas, antes de explicar, deixa eu contextualizar…

É um microcosmos daquele momento histórico de tensão, carregado de um medo coletivo, em que detalhes sentimentais do (e pelo) país são exemplificados pela reação dos alunos, professores e pais.

E durante essa invasão, temos Wissam. Um menino de 11 anos que tenta contar a uma colega sobre a paixão dele por ela. Há algum tempo, o galanteador tem colocado cartas anônimas no armário de Joanna e, agora, espera encontrar a coragem necessária para se declarar. Enquanto isso, dois professores, com visões políticas diferentes na guerra que se avizinha, tentam mascarar os medos. No caso, a personagem Yasmine (Nadine Labaki) fica dividida entre o irmão e o colega-namorado.

É a estreia do diretor em longas e repete o que Alfonso Cuarón fez com Roma ou Kenneth Branagh em Belfast. Um fato histórico que passa pelo filtro infantil de alguém que não atingiu a maioridade.

“Ronald não é nada romântico!”

Sou, sim, tá? Nem adianta me difamar!!

Encrenquei não com esse recorte romântico, mas com o ritmo que é apresentado…

Leeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeento…

Posso dizer ingênuo…

Daqueles que leva um eternidade para algo que merecia poucos minutos de tela.

É tão arrastado na primeira hora, que você se contorce na poltrona, tentando achar a melhor posição para resistir bravamente.

Depois até esquenta, quando a guerra vem realmente à tona, mas aí o prejuízo já está garantido.

Sem spoiler (mas vou deixar você muito curioso), mas outra implicância minha é o final.

Por que abandonar a pegada realista e flertar com a ficção, colocando aquele desenho de lápis de cor do National Kid libanês???

Por quê??????????????????????????????

Alô, Lázaro!!! Alguém que sabe acabar com um ponto final tão bem quanto você!!

Eu até compreendo que é uma visão “otimista” da situação dramática e complicadíssima que aquele povo sofreu, vítimas de terceiros. Um ponto de vista libanês, que representa as pessoas comuns, que não participaram de tudo que aconteceu na guerra. Isso fica nítido e é até bonito, mas foi mal-executado.

Não dá para jogar o Gigante Guerreiro Daileon do nada para salvar o dia… quem dera que pudéssemos!! Nesse e em tantos outros conflitos, mas não rola!

Nota histórica:
Após dois meses de intensos bombardeios israelenses, foi negociada a retirada da OLP da capital libanesa. No ano seguinte, a organização palestina deixou o país. Até a trégua ser estabelecida em 1983, centenas de milhares de pessoas morreram e Beirute foi reduzida a ruínas.