Cinema

Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro | Crítica

servido por: Ronald Johnston

O que acontece quando uma pessoa criativa acaba assistindo ao MasterChef numa terça-feira?

Cria um roteiro baseado num game gastronômico!

Mas isso é apenas o começo…

Porque Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro é mais que isso.

É uma animação 100% brasileira. A primeira totalmente “made in Minas Gerais”.

Antes de destrincharmos a produção, sim, isso tem que ser destacado… ou melhor, enaltecido!!

Cada estreia comercial de um longa animado constitui uma vitória… daquela pequena equipe persistente que, em geral, luta por vários anos para finalizar o trabalho.

É um dos diversos setores que o cinema nacional ainda batalha para desenvolver… são caras, carecem de profissionais altamente qualificados e recebem, tradicionalmente, pouco incentivo.

Falta o circuito capitalista refletir tamanho investimento de tempo, conhecimento e talento.

Precisava desabafar…

Vamos ao filme em questão!

A trama segue o cozinheiro Jack, praticamente um Indiana Jones da mise en place, um rapaz de bom coração, mas… sabe quando a receita pede uma pitada e a pessoa perde a mão, exagera mesmo, vai em excesso? Pois então, essa é confiança dele.

Um dos prodígios da culinária de aventura (sim, é uma modalidade… queria muito ver o desempenho do Jacquin, hahahahahaha), viaja o mundo todo procurando os ingredientes mais raros para completar receitas únicas.

Sem exagero, com aquela aura de herói, enfrenta imensos perigos em busca da combinação perfeita para os próprios pratos.

Contudo, a situação fica azeda após um “descuido” numa refeição oferecida ao marajá do Gulodistão (invejei!), que coloca a reputação em risco. Para dar a volta por cima e provar que ainda é o maioral entre os chefs aventureiros da atualidade, só existe uma saída, participar da maior competição do planeta: a Convergência de Sabores!

“Hã???”

Uma mistura de Jogos Vorazes e Mestres da Sabotagem, na qual duplas se arriscam para chegar ao desafio final: após encontrar uma noz raríssima, utilizá-la para preparar algo espetacular.

Mas aquilo que o protagonista pensava ser uma tarefa fácil, acaba se tornando um grande dilema, onde terá que aprender a trabalhar em equipe e deixar o orgulho de lado.

Quem vai ser o Robin desse Batman?

O amador e inseguro Leonard almeja essa vaga…

E um dos rivais pelo prêmio é um sujeito de sotaque francês… (jura???)

Parei por aqui, não ofereço spoiler neste cardápio, rs

Mas é muito interessante e original…

Até o cuidado em envolver todas as etnias, elaborando excelentes coadjuvantes.

Nesta era de realities, soa como uma pedida adequada, na tentativa de agradar a pirralhada, mas também se tornar palatável aos adultos.

Transmite mensagens inspiradoras, como se espera de algo voltado para o público infantil, marinadas em ritmo e cores apropriados à era das redes sociais.

Observação:
Desculpa, meu querido leitor… como fã do programa de Dona Helena Rizzo e cia., vou me esbaldar nos gracejos.

Vamos falar da ação… os obstáculos pelo caminho!

Escalada a montanha gigantesca só com utensílios, um monstro gigantesco, além do exército de castores irritantes, por exemplo. O universo foi bem explorado, com coesão e coerência.

Aí, para quem já conferiu ou ainda vai assistir, minha dica é: fique atento aos detalhes.

A cultura Asteca vira Bisteca…

Os mares da Macarronésia…

Os trocadilhos estão espalhados e são criativos.

Particularmente, adorei o nome do navio, Bechamel…

“Ronald, cadê as mulheres?”

Tem papel de destaque… a empresária e mentora do personagem principal, Bárbara, é divertida na rispidez.

A caracterização do time mãe e filha é claramente inspirada em Wakanda… se é menos original, brilha na referência…

E já que eu fiz essa menção, preciso citar a apresentadora, parecida demais com Effie Trinket, acompanhante dos tributos do Distrito 12.

Mas ninguém brilha mais que a principal amiga do Paladino da Cozinha, Alice, que está no mesmo patamar físico e intelectual, mas que não são rivais, a amizade entre eles é mostrada desde o início. E você tem noção que vai ser uma grande competidora, talvez por isso as proezas não permaneçam em evidência aos olhos do espectador o tempo todo.

Pelo cuidado, tive a impressão de um longa-metragem de notável esforço de produção e visível carinho na realização técnica.

A dublagem do Protetor das Azeitonas é feita pelo também mineiro Danton Mello. Mas todas as vozes estão ótimas! A direção do projeto é de Guilherme Fiuza Zenha, já o argumento é de Artur Costa.

A cereja no sundae é uma trilha sonora com músicas compostas especialmente para a obra.

Um momento para a família – os pais vão se divertir, os pequenos também… mas com um olhar muito singelo e peculiar sobre a amizade.

Sobram mensagens a respeito da crença em si mesmo, da necessidade de ajudar e valorizar as parcerias, da importância da humildade e de aceitar derrotas.

Como diria o Geninho (pela honra de Grayskull!!), no episódio de hoje você aprendeu que já abandonamos a ideia de que, para crianças, uma pequena trama colorida e musical com uma cartilha de valores morais são suficientes.

Agora vamos tratar da sua parte favorita: os problemas…

Não vai escapar, não! rs

Cabe ressaltar que o cardápio oferecido por Jackson (sim!!) se mostra sem sustância. É a tal quiche fenomenal e só…

Não posso me contentar com a existência de um prometido banquete, que acaba refém de algo simples assim…

E, diante de um primor em cada detalhe, uma árvore gravemente cortada, mas colada de volta de maneira tão corriqueira, como se não fosse tombar com um sopro, acabou me incomodando.

“Você é muito chato!!”

Ora, as cenas com fogo (a bela sequência do lámen preparado no improviso), a bruma noturna e a esfinge munida de um enigma (óbvio!), que comprovam o potencial deste título, fiquei com a impressão que gastaram pouco tempo nesta solução, colocava pelo menos Super Bonder, sei lá!

Comenta aí se você fugiu do lugar comum e acabou adotando outra equipe…

Até a próxima!!

Ah, na prova derradeira, tem um jurado igual ao Fogaça… sem exagero!!