Cinema

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania | Crítica

servido por: Caio Sandin
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A franquia Homem-Formiga é uma das mais complexas de se definir dentro do Universo Cinematográfico da Marvel. Desde o início, com Edgar Wright e as divergências criativas que o afastaram do projeto, até a transformação de um herói completamente mundano e piadista em um salvador do multiverso, Scott Lang já teve diversas características e os filmes, diversos tons. Como, então, Quantumania poderia catar todos os cacos e finalizar a história em uma trilogia minimamente coesa? Amplificando o que de mais importante foi construído nestes últimos 8 anos e condensando tudo em algumas horas de tela.

A jornada não é das mais simples. Reapresentar um grande e poderoso vilão, explicar o “novo e ampliado Reino Quântico”, explorar tramas secundárias para 5 protagonistas, manter o tom leve, mas ainda demonstrar perigo aos heróis… tudo isso e ainda conquistar uma audiência que está começando a se cansar da fórmula mágica, que tanto fez sucesso desde 2008. Parece uma tarefa grande demais para o mais despretensioso dos Vingadores. Mas é justamente aí que o filme brilha.

Ao saber que a mordida seria complicada demais para se mastigar de uma vez, o longa se dá tempo para dividir todas essas preocupações em pedaços menores. Cada um dos personagens tem um momento para brilhar durante a projeção, seja na construção de um arco novo, revelação de um passado desconhecido ou até mesmo fincando raízes no que mais é importante para a jornada dele.

“Precisamos mostrar quão incrível o Reino Quântico é? Sem problemas, chegou a hora de fazer o Star Wars da Marvel”, devem ter pensado os roteiristas e produtores, que usaram a oportunidade para criar conceitos novos, explorar diversas possibilidades e se divertir junto com os novos viajantes. Separando o grupo para conseguir demonstrar quão vasto e distinto todo este universo abaixo do nosso pode ser, a história aproveita para estreitar laços e criar relações que não pudemos ver em tela. Sem pressa.

Somente depois que a base está estabelecida é que somos apresentados ao grande vilão, que tanto nos foi alardeado, seja antes de entrar no cinema, ou mesmo durante a projeção. E ele eleva a barra em diversos aspectos. Imponente, amedrontador e, de fato, perigoso, Kang nos apresenta uma ameaça real, não só para os personagens que gostamos e estão no filme que estamos vendo, como também para o MCU como um todo. E este nível só é alcançado por conta da grande atuação de Jonathan Majors. Versátil e com um alcance impressionante, o ator entrega a versão “vilão megalomaníaco” tão bem quanto a “viajante perdido sem esperanças”, nos fazendo acreditar em ambas e simpatizar a última na mesma medida como tememos a primeira.

Após a chegada do Conquistador, a trama muda de tom e começa a demonstrar que o perigo é iminente. E a melhor forma para nos deixar ainda mais receosos pela perda é exatamente fincar raízes no que já é o cerne de Scott Lang há tantos anos nas telas, a importância da família e da relação com a filha, Cassie. A jovenzinha do primeiro longa cresceu e tem os próprios dilemas, mas ainda serve muito bem para o arco dramático do pai, sem deixar de adicionar novos fatores e se desvincular dele.

O filme está longe de ser perfeito. Em alguns momentos, as atuações deixam a desejar, todo a história envolvendo M.O.D.O.K. é um pouco superficial (eu gosto do visual, me julgue), depois da virada com foco em Kang, toda a construção “Star Warsiana” fica um pouco em segundo plano… enfim, existem inúmeros fatores a se reclamar, mas nenhum deles faz com que o filme deixe de ser divertido e consiga caminhar com as próprias pernas. Se a missão de finalizar esta trilogia e embalar toda a história do Homem-Formiga em um pacote coeso era ingrata, ao se apoiar no que de mais forte havia no personagem e amplificar os fatores ao redor dele, Quantumania consegue satisfazer fãs e conquistar novos públicos, além de, obviamente, manter a máquina da Marvel no Cinema em movimento, colocando mais lenha no motor desta locomotiva.