Cinema

“Creed: Nascido Para Lutar” trisca na nova geração

servido por: Thiago Ferrarias

Você nasceu numa geração que poderia afirmar, euforicamente, que a franquia “Rocky” foi uma das melhores (para muitos, a melhor) que você já viu?

Você saía da sala de cinema, ou do sofá da sala, querendo ser um lutador de boxe?

E as lutinhas com os irmãos ou primos?

Ah! A sensação de ser um campeão!

Pois é, “Creed: Nascido Para Lutar” vai lhe trazer a vontade de vestir as luvas novamente.

Não só para você, mas provavelmente para seus filhos, sobrinhos ou para muitos dessa nova geração.

O último filme da franquia pode, sem medo de errar, ser considerado um reboot do primeiro “Rocky”, mas isso não tira, em nada, o brilho e o caráter inovador.

Também não apaga a imagem do nosso bom e velho “Garanhão Italiano”, mas traz, à tona, um novo e muito bem sucedido personagem, que sabe o que quer, e, apesar das inseguranças e obstáculos, segue resoluto no caminho dele. Um retrato do que, no fundo, todos buscamos ser.

https://www.youtube.com/watch?v=DaanI9vOeEk

Como filme, ele apresenta novas oportunidades de se sentir a luta, como os planos-sequência no ringue, que estão muito bem sincronizados e nos trazem a sensação de acompanhar as pelejas de perto, como se estivéssemos ali mesmo, no tablado.

Os personagens vão ganhando cicatrizes à medida que apanham, num jogo de câmeras muito interessante, e, de repente, BUM! Uma cena de knockout – FODA PRA CARALHO – acontece num desses planos e você pensa: “puta que pariu, não acaba!”.

Mas sem spoiler: isso só é parte do filme. Tem muito mais.

Os atores cumprem muito bem os respectivos papéis. O garoto Creed (Michael B. Jordan) se mostra à vontade como um jovem (apesar de obstinado) inseguro e impulsivo, que busca, em Balboa e no fantasma do pai – Apollo Creed -, o lugar dele. Seja como ser humano, homem, e, por fim, lutador.

Todo o elenco é muito feliz nas atuações, mas é preciso reafirmar a importância e o talento de Sylvester Stallone. O cara tem a capacidade de sair daquela postura de eterno durão, implacável, para se tornar um homem simples, que não tem um vocabulário sofisticado. Muitas vezes, de cabeça e olhos baixos, com alguma timidez doce, que faz você confundir quem existe mesmo na vida real, o Rocky ou o Stallone?

Apesar de concordar que o Oscar é branco, não dá para dizer que, nesse caso, a Academia foi injusta. O Stallone é o Rocky… dentro do filme dele, ninguém vai ser melhor.

Não é por acaso que até textos e músicas dessa saga – de um homem que não consegue fugir do que ele nasceu para ser – são usados em muitos cursos e palestras de motivação. Não que eu considere, de bom gosto, OS CURSOS E AS PALESTRAS, mas os textos e as músicas, sim.

“Você, eu, ninguém vai bater tão duro como a vida. Mas não se trata de bater duro. Se trata de quanto você aguenta apanhar e seguir em frente. O quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando. É assim que se consegue vencer.”

Claro que me refiro àquele sentimento que nós temos, quando nos contagiamos por um momento, uma fala ou uma música. Ninguém está dizendo para sairmos por aí sendo lutadores-campeões, no ritmo de um blockbuster americano. Mas ninguém disse também que não seria boa essa possibilidade. 😉

Música! Outra coisa que acertaram neste filme.

Você está ali, assistindo com atenção, seus olhos já estão presos nas sequências de treinamento e luta, mas, a todo momento, sem saber, seus ouvidos estão sendo instigados pela trilha sonora. Você acha que está escutando a música-tema do filme… então, de repente, você não está! Tem aquela cena que:

“Nossa, é agora! Tá começando! Agora, a chapa esquenta!”

E então:

“Sim, chegou o momento! Estou ouvindo até a música – tan tantantan tan tananana -, mas não é a música! Mas é a música! Caraaalho, que foda!”

É como comer aquele doce que sua mãe faz na medida. Você já está na quinta colherada… por um momento, você acha que, nas próximas duas, terá o suficiente, mas depois de mais cinco, você não enjoa e ainda repete!

Eles sabem a hora de pôr e de tirar naquela porra. Foda!

Juntando diversos elementos – que sempre deram certo nos filmes de boxe -, como clichês e bons textos hollywoodianos, mas numa repaginada total, com pequenos argumentos modernos, que trazem o espectador de hoje para mais perto (como na cena em que o Creed fala sobre guardar arquivos do celular na “nuvem”, hilário!).

Ryan Coogler, o diretor, mandou bem na função de trazer o sempre instigante Rocky Balboa de volta… não só para nós, “velhotes”, mas para uma geração que nunca viu Mike Tyson nas madrugadas, não sabe o que é um ringue de quatro cantos, onde só se luta uma arte marcial, e que, assim como eu, desconhece Floyd Mayweather.