Cinema

Muito obrigado, Diana!

servido por: Vitor Leobons

Finalmente assisti à Mulher-Maravilha!

Estava com medo desse filme… a expectativa era alta! O primeiro longa-metragem da Princesa das Amazonas, em 75 anos de existência, precisava ser bom. Não só pela responsabilidade de acertar o caminho da DC nos cinemas – depois de dois péssimos exemplos. Mas, principalmente, por toda a questão da representatividade e do empoderamento que carrega. Querendo ou não, Mulher-Maravilha tem essa obrigação…

E, gente, como é bom dizer que o filme é ótimo! Uma boa reconstituição de época, excelentes sequências de ação. Patty Jenkins se sai muito melhor que Zack Snyder e David Ayer… nos entrega uma aventura que sabe ser leve, engraçada, empolgante, tensa e, por que não, romântica também? Mas volto a isso daqui a pouco.

P.S.: se você está lendo, mas ainda não assistiu, se manda… porque – daqui para frente – vai ter spoilers pelo texto.

Mulher-Maravilha é o quarto filme na tentativa – da Warner/DC – de criar um universo compartilhado nos cinemas. E é o primeiro a jogar toda a pretensão pelo ralo e se aceitar como um belo filme-pipoca, uma aventura despretensiosa, mas que, se você se deixar levar, talvez encontre alguns temas bacanas para pensar…

É um ponto de virada importante ao se afastar do combo adulto/sombrio/realista, aceitando e fazendo um ótimo uso da fantasia e do fantástico.

Jenkins optou pelo simples e soube dar o tom certo ao filme! As cenas de ação são muito bem dirigidas. O slow motion funciona muito bem, tendo uma real função dramática nas cenas… não está lá só pelo estilo.

A trilha é extraordinária e empolgante! Finalmente um tema de fato marcante na safra recente de filmes de super-heróis. É impossível não ficar com a melodia na cabeça após a sessão.

Gal Gadot é uma péssima atriz! Mas tem carisma de sobra, consegue ser durona quando precisa e encantadora quando necessário… nos entrega alguns momentos constrangedores, mas segurou o papel de protagonista e deixou Henry Cavill e Ben Affleck no chinelo. A química dela com Chris Pine é ótima! E vai muito além do interesse romântico. Mas, novamente, volto a esse assunto daqui a pouco…

O filme tem problemas… claro! Algumas mudanças na origem da personagem me incomodaram bastante. Senti muita falta da disputa entre as amazonas para descobrir quem deveria vir ao mundo do patriarcado. Não gosto da Hipólita simplesmente se negar a ajudar Steve Trevor e não cumprir o papel delas contra Ares. A cena da morte de Antíope é constrangedora e se agarra ao clichê sem qualquer vergonha. O plot point da real identidade do Deus da Guerra acaba sendo tão sem razão e impacto: ficou a reviravolta, apenas pela necessidade de ter uma. Sem acrescentar nenhuma carga dramática a história.

E a Doutora Veneno é pessimamente desenvolvida, muito mal escrita. O fato dela ser deformada é um acréscimo desnecessário à personagem e que a deixa tão rasa…

Enfim…

Deuses e Mortais, de George Pérez, ainda continua sendo, no meu ponto de vista, uma escolha melhor para ser adaptada para um filme de origem da Diana, mas é uma opinião muito pessoal e o caminho escolhido funciona!

Tinha receio quanto ao fato de colocar a personagem na Primeira Grande Guerra, mas a escolha funciona muito bem, por ajudar a ressaltar o papel da mulher naquela época em contraste com a presença de um exemplo forte e decidido como Diana.

E vamos a parte mais polêmica de todo o filme: o amor!

Lá no começo do texto, disse que o longa era romântico, porém não me referi ao romantismo de uma história de amor entre duas pessoas, como normalmente esperamos. Mas, sim, me refiro ao fascínio pelo próximo, por um igual… ao que vem da empatia! E acredito que seja esse o sentimento que motiva e move a personagem. É por conta dele que ela salva Steve Trevor, que a protagonista atravessa a Terra de Ninguém e é esse tipo de atração que movimenta a relação Diana/Steve.

Acredito que o sentimento, no filme, é tão aberto à interpretação. E vi, entre a Mulher-Maravilha e o agente Trevor, a construção de uma relação de respeito e igualdade, que não é baseada no interesse sexual ou amoroso de um casal. Diana é tão honesta e direta, que talvez a noite de amor não tenha relação com o desejo, mas apenas demonstrar carinho por alguém que você respeita e admira. Ela vem de uma ilha com uma cultura complemente diferente da nossa sociedade, onde – inevitavelmente – as relações são encaradas de uma forma diferente daquelas da nossa sociedade.

E um ponto importante nessa discussão é o fato de ter sido o Steve a dizer “eu te amo” e, não, ela… como disse, o amor em Mulher-Maravilha é colocado de forma a deixar muitas brechas para interpretação. O que, aliás, é um grande ponto positivo.

Enfim…

Mulher-Maravilha é um ótimo entretenimento e segura – com louvor – toda a responsabilidade que tinha! As mulheres chegaram para arrumar a casa da DC no cinema! Palmas para elas e eu quero ver mais!