M3GAN | Crítica
Desde que Chucky chegou aos cinemas e se tornou um sucesso mundial, muitos outros filmes tentaram replicar a fórmula do boneco assassino e transformar o medo infantil de algo se mexendo dentro do quarto em realidade. Alguns até tiveram sucesso, como Annabelle, mas mesmo a tentativa de transformar o original em franquia não teve o efeito esperado. Demonstrando, assim, a dificuldade de se produzir algo realmente novo e intrigante neste modelo.
Com esse cenário em mente, M3GAN consegue acertar em cheio (todas as caixinhas assinaladas) para se tornar um fenômeno, não só nas redes sociais, como dentro da sala de projeção. Liderado pela carismática protagonista humanoide, o longa precisa de poucas cenas de horror para construir o ambiente necessário e assustar efetivamente. O grande trunfo da produção é usar esta tensão para gerar boas risadas na audiência, sem a necessidade de apelar para clichês do gênero. Tudo isso enquanto tece uma crítica à sociedade moderna e às assistentes virtuais.
Logo na primeira cena do filme, somos apresentados a um mundo em que as inteligências artificiais estão ainda mais presentes e chegaram às crianças na forma de “pets imortais”, que devem ser alimentados e cuidados. Mas, em contrapartida, mantém uma espécie de tutela permanente sobre os mais novos. É esta primeira cena, também, que nos mostra que o humor estará presente no centro da trama, tanto quanto o terror.
A partir daí, a trama começa a caminhar para que a boneca, que dá título ao longa, possa ter toda uma jornada. E os roteiristas conseguem fazer com que todo o trajeto seja interessante, acrescendo novos elementos e pequenas mudanças a cada passo desse caminho. Não que o visual não cause estranheza desde o primeiro contato, mas o avanço para o gore, com sangue, violência e mortes, é gradual e bem construído.
Outro fator que eleva M3GAN em meio a tantos longas de terror é o elenco, que sabe servir de escada para que a robô possa escalar nos gêneros desejados, mas também consegue brilhar nos momentos em que é necessário um pouco mais de drama. Muito disso se dá pela personagem da tia que se responsabiliza pela sobrinha após a morte dos pais. É esta a criança que ganha a boneca de presente, como uma forma de testá-la em um ambiente de uso real. E se em Corra!, Allison Williams entregou uma performance incrível como a namorada que atrai o protagonista para uma armadilha, aqui, ela consegue viver muito bem o outro lado da história e ser a “perseguida”, nos mostrando os tons de cinza de uma personagem complexa.
Já a crítica às inteligências artificiais e assistentes que invadem todos os ambientes privados para “nos ajudar” não é sutil, tampouco superficial, e, apesar de deixada de lado em alguns momentos, nos ajuda a entender, com uma faca em punho, como entregar tudo nas mãos de computadores pode ser perigoso.